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O IMC é uma medida confiável?


Isabella Yansen
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O IMC é uma medida confiável?

Caros leitores, hoje pretendo fazer um alerta sobre uma medida de avaliação que a maioria de vocês deve conhecer. Trata-se do IMC, o índice de massa corpórea, aplicado por nutricionistas e, mais recentemente, até mesmo por médicos, para avaliar a saúde do paciente em termos de peso ideal.

O IMC é calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Sugere-se, então, que o resultado deste cálculo indique se o paciente está acima, abaixou ou dentro da faixa de peso adequada para sua altura. Mais que isto, o IMC parece mostrar qual o grau de baixo peso ou obesidade do paciente, se este for constatado e, ainda, que riscos esta alteração de peso ideal pode trazer à saúde do indivíduo.

Na figura abaixo, apresentam-se as possíveis faixas de IMC e a situação de saúde a que cada uma delas se associa conforme Lambert Quételet, que desenvolveu estes cálculos no fim do século XIX.

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Um exemplo de cálculo de IMC seguido pela avaliação rápida do resultado é dado a seguir:

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A rapidez e a praticidade do procedimento de cálculo do IMC são inquestionáveis. Enquanto outros métodos de avaliação mais complexos costumam exigir horas de trabalho e recursos financeiros claramente inacessíveis à maioria dos segmentos da população, o índice de massa corpórea leva minutos para ser estipulado e exige apenas uma calculadora.

Hoje em dia, vejo médicos e empresas de alimentos fornecendo aos seus clientes um círculo de papel contendo, ao seu redor, todas as faixas de altura e peso existentes numa população. Associados através de uma seta ajustada no interior do círculo, eles fornecem imediatamente o IMC do paciente, o que elimina, por sua vez, a necessidade de cálculo.

Tanta facilidade desperta o fascínio de muitos. Seria prático e maravilhoso mexer numa setinha de um círculo de papel e, em questão de segundos, informar-se a respeito da sua própria situação de saúde, sendo alertado pelas aparentemente “bem-intencionadas” indústrias de alimentos e profissionais de saúde, mais uma vez, aparentemente “bem-intencionados” quando se trata dos riscos gerados pelo baixo peso ou pelo seu excesso.

Antes de mais nada, porém, friso a importância de tomarmos consciência de que, no procedimento de avaliação corporal de um indivíduo, todo e qualquer método aplicado apresenta falhas e desvios, desde o IMC, o mais barato e simples de todos, até os mais complexos e caros.

A complexidade de um método de avaliação pode aumentar a precisão dos resultados e garantir, desta forma, que o diagnóstico seja aplicado da melhor forma possível, e é nisto que muitos nutricionistas trabalharam durante anos a fim de proporcionar segurança no tratamento dos seus pacientes.

O IMC, por sua vez, ao promover comodidade, elimina também as chances de exatidão do resultado final, o que prejudica sua firmeza na questão da precisão e distorce facilmente o diagnóstico. E como isto ocorre?

A base para a ausência de fidedignidade do IMC estabelece-se no fato de que ele usa como dado principal o peso do indivíduo, eliminando o dado “composição corporal”. Isto significa que se uma pessoa, por exemplo, é diagnosticada pelo IMC como saudável (estando na faixa entre 18,5 a 24,9 pontos) e tem alto índice de gordura, compensado no peso pelo baixo índice de massa magra, ela ainda assim será uma pessoa com má composição corporal identificada como saudável, o que, por sua vez, impossibilita a intervenção do profissional na orientação de controle alimentar e prática de atividade física como tentativa de modificar os percentuais de gordura e massa muscular do indivíduo, tornando-o uma pessoa menos susceptível, em longo prazo, à incidência de doenças metabólicas.

Este é só o começo da lista de argumentos que coloca definitivamente o IMC na lista de métodos de avaliação física ultrapassados. Ele é tão falho que ultimamente tem sido eliminado da rotina de avaliação de nutricionistas, pois, segundo eles, é apenas “perda de tempo” em meio a tantos caminhos novos e eficazes de avaliação.

Médicos e empresas de alimentos ainda divulgam em massa o método do IMC. Por trás disto, não existe apenas ignorância científica, mas também interesses ligados à facilidade com a qual se pode convencer uma pessoa de que ela não precisa de tratamento nutricional, mas apenas medicamentoso. Além do mais, pessoas referidas como portadoras de sobrepeso são o alvo das indústrias alimentícias, frequentemente afinadas com a venda de produtos light e com a divulgação da imagem da magreza como verdade oficial.

A Revista Pública de Saúde publicou, em 1992, uma importante pesquisa relacionando os valores de IMC ao risco relativo do desenvolvimento de tuberculose, cânceres, diabetes de AVC. Para tal, uma amostra da população norueguesa foi acompanhada durante dez anos e registrou-se o IMC de cada indivíduo em determinada época, acompanhado do registro do estado de saúde do mesmo.

Com isto, foi possível fazer uma associação registrada no gráfico abaixo.

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Note que, para a surpresa dos fiéis seguidores da prática do cálculo do IMC, o risco de desenvolvimento de doenças graves foi especialmente encontrado em indivíduos com IMC inferior a 22, dobrando nos casos em que o IMC era inferior a 18. O peso ideal, livre de complicações, foi dado pelo estudo como aquele que fornecesse, através do cálculo do IMC, a faixa entre 22 e 33 pontos, considerada “sobrepeso” pelos padrões comumente divulgados.

Este fato indica, mais uma vez, a necessidade de marketing alimentício refletido na venda da informação de que o peso saudável relaciona-se com IMC inferior a 25.

Para concluir, enfatizo a importância de tomar como base dados pessoais como a qualidade da dieta e a freqüência de atividade física do indivíduo para o diagnóstico da saúde do mesmo. O “peso ideal” é completamente independente do IMC e pode ser facilmente determinado pela faixa de peso que o paciente mantém com facilidade em estado de saúde e bem-estar, alimentando-se adequadamente e exercitando se conforme recomendação profissional.

Bibliografia consultada:

Anjos, L. A. Índice de massa corporal (massa corporal.estatura-2) como indicador do estado nutricional de adultos: revisão da literatura. São Paulo, 1992.

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