Mvrck Postado 28 de novembro de 2002 Postado 28 de novembro de 2002 Há um trabalho para parte superior e inferior do abdômen? Por Marcelo Rocha Não veremos aqui uma gama de exercícios e discussões, mas sim uma questão simples que gera ainda respostas controversas e medíocres. Tudo que for dito terá o objetivo de esclarecer a suposta diferença existente no trabalho de diferentes regiões do músculo reto abdominal em dois exercícios: flexão do tronco e flexão e/ou elevação do quadril, também chamada de flexão de tronco invertida; e se isto realmente tem importância no processo de hipertrofia do músculo. Para iniciar devemos frisar que a principal diferença entre os dois exercícios é que hora você aproxima inserção da origem hora origem e inserção. O que é bastante difundido (trabalho maior da região abaixo do umbigo na flexão do quadril, e da região acima do umbigo com a flexão de tronco), e que o que foi explicado acima tem enormes diferenças. Segundo LEHMAN et al em estudo realizado na Faculty of Applied Health Sciences, University of Waterloo em Ontario, a diferença existente entre os trabalhos de flexão do tronco e de quadril na ativação de diferentes partes do reto abdominal são pequenas e tem maior relevância em aspectos clínicos ou terapêuticos; os autores deste estudo utilizaram alunos universitários com habilidades atléticas e baixa gordura subcutânea para que o teste de eletromiografia fosse mais fidedigno. Nos testes realizados, foram executados os mais variados exercícios e observou-se aspectos como: amplitude de movimento, curvatura da coluna vertebral e postura. Já o estudo realizado por FUSTER et al na Universidade de Valencia, mostrou que para indivíduos treinados e com boa execução nos exercícios de flexão de tronco e de quadril, há diferença significativa, principalmente na flexão de quadril para a região infra-umbilical; já em indivíduos destreinados e com má execução, toda a região do reto abdominal trabalha de igual maneira. Vejo aí com a divergência das pesquisas, que quando foi encontrada maior diferença entre os exercícios (FUSTER et al, 1996), ela se deu na forma de processamento da informação pelo indivíduo em relação ao que ele sentia na modificação dos exercícios, tendo em vista que o grupo que apresentou maior diferença era de treinados e possuía maior consciência motora. Um problema encontrado é o fato da eletromiografia (principalmente a superficial) não quantificar o trabalho das fibras musculares; ela apenas mostra se a musculatura daquele local esta sendo ativada, sendo assim os testes eletromiográficos não fornecem informações capazes de definir se um exercício é melhor que o outro para determinada região ou músculo, até porque o que realmente tem importância são os estímulos bioquímicos e não necessariamente os elétricos. Um fato interessante a ser discutido, é que muitos preconizam que a hipertrofia aconteça em determinadas e restritas regiões do músculo. Será que se você só realizar séries de supino inclinado, terá desenvolvimento só da região clavicular do grande peitoral? (imagine também um atleta que há anos realiza os mesmos gestos, nos mesmos ângulos; o que será que aconteceria com os seus músculos?). Para se entender os possíveis mecanismos de hipertrofia, deve-se entender também as formas de atuação hormonais, o que deve ser admitido e que realmente importa é o seguinte: a resposta hormonal pode acontecer de forma endócrina, parácrina e autócrina. Ou seja, o hormônio produzido e/ou liberado por determinadas células, pode cair no sistema circulatório, difundir-se pelo corpo e interagir em inúmeras células (endócrino); no local onde é liberada (parácrino) ou somente na célula que o libera (autócrino).( FLECK et al,1999 ). Sabendo que a hipertrofia acontece segundo os tipos de feedback hormonal explicados acima (com a testosterona e o IGF-1, principalmente) em uma região do músculo bem mais abrangente do que o proposto por muitos, é certo que o fato de você realizar um só tipo de exercício não irá interferir na hipertrofia em si (claro que sendo maior a região estimulada será de igual forma esse feedback). A variação dos exercícios é além de motivacional, uma forma eficaz de ultrapassar algum platô nos diversos trabalhos neuromusculares, e realizar uma boa sessão de treinamento. Observe, eu não estou dizendo que não devem ser feitos exercícios diferentes, principalmente porque eu respeito a especificidade de movimentos desportivos, o aspecto motivacional, ou até mesmo um processo de reabilitação, mas não restam possibilidades deles provocarem todo esse milagre atribuído por alguns profissionais, tanto é que foram encontradas diferenças no mesmo tipo de teste com os mesmos exercícios. Não se prenda a detalhes em exercícios, esperando que isso vá lhe render mais resultados. O treinamento com resistência seja ele na musculação ou em quaisquer outras atividades possuem variáveis que devem ser criteriosamente ajustadas (intensidade, recuperação, objetivos etc). O resultado de um treinamento depende de muitos aspectos e se você realizar o seu treinamento com dedicação e principalmente com a intensidade adequada, você terá excelentes resultados sem se preocupar em procurar uma imensidão de exercícios que no final não lhe trarão os tais “milagres prometidos”.
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