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Introdução

Desde da Grécia antiga (580 A.C.), a adoção de dietas especiais faz parte do ritual de preparação para as competições (GRANDJEAN, 1997). A humanidade sempre lançou mão da manipulação dietética e do uso de alimentos específicos para atingir objetivos específicos. No século XIX, por exemplo, preconizava-se a dietoterapia para o tratamento e prevenção de doenças (KRAUSE & MALAN, 1991) e, mais recentemente, reconheceu-se à importância da nutrição para a melhoria do desempenho no esporte (PROBART et al., 1993). Segundo MAUGHAN (1993) a nutrição desportiva não transforma um sedentário em um atleta, porém pode decidir que será ou não o campeão. Esta citação ilustra com muita propriedade a importância da elaboração de uma dieta adequada para atletas.

Dentre as ciências relacionadas ao desempenho atlético, a nutrição desportiva é uma das que mais cresceu nas últimas décadas. Entretanto, diversos estudos com atletas de elite ainda demonstram uma grande variação no percentual de distribuição dos nutrientes em sua dieta. Após analisar a dieta de atletas olímpicos de diversas modalidades, GRANDJEAN (1997) obteve os seguintes resultados: os carboidratos, lipídios e proteínas representavam entre 33 a 57%, 29 a 49% e 12 a 26% do total de energia, respectivamente. É importante notar que nesses estudos há um alto consumo de lipídios pelos atletas, perfazendo até 49% do total da energia ingerida. Ao analisar uma população mais específica de corredores de longa distância, PENDERGAST e colaboradores (1996) constataram que a contribuição energética proveniente dos lipídios na dieta destes atletas era de apenas 15 a 20% do total das calorias ingeridas.

Esta discrepância no padrão de distribuição de consumo dos macronutrientes está diretamente relacionada à falta de orientação adequada. Não somente entre atletas, mas entre indivíduos fisicamente ativos (freqüentadores de academias de ginástica, de clubes e de centros desportivos) também é grande o nível de desinformação.

A busca frenética do "corpo perfeito" tem levado pessoas desinformadas a adotar estratégias radicais, que nem sempre estão relacionadas à promoção da saúde. Com relação à nutrição, destaca-se o surgimento de diversas "dietas milagrosas" e também o crescimento do consumo de suplementos nutricionais.

Suplementos Nutricionais

A palavra suplemento originada do latin "supplementu", é um substantivo masculino que tem como significado: 1. o que serve para suprir, suprimento. 2. o que se dá a mais: suplemento salarial. 3. parte que se adiciona a um todo para ampliá-lo, esclarecê-lo ou aperfeiçoá-lo (FERREIRA, 1986).

Em 1994, nos EUA através da aprovação do senado foi criado o Dietary Supplements Health and Education Act o qual esclarece o conceito de suplemento alimentar:

Produto (com exceção de tabaco) utilizado com o objetivo de suplementar a dieta e que contenha um ou mais dos seguintes ingredientes: vitamina, mineral, erva ou outro tipo de planta, aminoácido, substância dietética capaz de aumentar o conteúdo calórico total da dieta, ou concentrado, metabólito, constituinte, extrato, ou combinação desses nutrientes.

Produto produzido para ser ingerido na forma de pílulas, cápsulas, tabletes ou como líquido.

Não for produzido para uso convencional como alimento ou como único item de uma refeição ou dieta.

For um produto no qual o rótulo apresente a denominação : suplemento dietético.

Incluir substâncias como drogas novas aprovadas, antibióticos ou produtos biológicos licenciados, comercializados como suplementos dietéticos ou alimento antes da aprovação certificação ou licença para ser utilizada como medicamento.

GRUNEWALD & BAILEY (1993) registraram a existência de 624 tipos de suplementos voltados apenas para fisiculturistas. Eles ainda relataram que a propaganda destes produtos apresentava 800 tipos de mecanismos diferentes, segundo os quais o desempenho poderia ser potencializado. No entanto, a maioria das alegações não é suportada por evidências científicas.

A popularidade dos suplementos alimentares vem crescendo espantosamente, tanto no meio esportivo como nas academias de ginástica. Através de cálculos estima-se que o consumo de creatina no ano passado ficou em torno de 2.500 toneladas (Medicine & Science in Sports & Exercise 32(3): 706-717, 2000). Este dado reflete a enorme expectativa de benefícios ergogênicos que os consumidores depositam nesta substância.

Com relação à classificação, ainda não existe um conceito unânime entre os especialistas da área. Alguns grupos classificam os produtos de acordo com o principal nutriente presente (complexos vitamínicos). Já outros utilizam a classificação de acordo com o propósito com o qual são comercializados (anabólicos, anti-catabólicos ou hiper-calóricos) (BACURAU et al., 2000).

Dentro da perspectiva nutricional, o suplemento alimentar tem como objetivo adicionar ou acrescentar alguma substância específica à dieta do indivíduo. Entretanto, antes de se adotar qualquer tipo de suplementação, em primeiro lugar, é de fundamental importância verificar se existe realmente a necessidade deste acréscimo. Melhor dizendo, é imprescindível determinar se a condição na qual o indivíduo se encontra, justifica a necessidade desta manipulação dietética. Por exemplo, em algumas situações específicas, como no tratamento de patologias como a anemia onde há aumento na demanda de ferro desta forma, justificando o aumento na ingestão deste mineral.

Aplicação clínica e no esporte

Muitos dos suplementos nutricionais, que supostamente são desenvolvidos e comercializados para atender as expectativas de atletas e de indivíduos fisicamente ativos, nasceram a partir de observações da prática clínica, que posteriormente foram extrapoladas para atletas.

A suplementação de glutamina (aminoácido) é uma estratégia muito utilizada no tratamento de situações, nas quais é observado intenso catabolismo a fim de suprir a demanda deste aminoácido, como indivíduos que sofreram grandes queimaduras ou infecção generalizada (CURI, 1999). Além da glutamina, pode-se destacar muitos outros suplementos, como o caso do TCM (triglicerídeo de cadeia média) que é amplamente utilizado por suas características específicas (mais hidrofílicos e absorção facilitada) na nutrição enteral e paraenteral de pacientes com problemas de absorção (AOKI & SEELAENDER, 1999).

No entanto, a eficiência de um suplemento no tratamento de um estado patológico específico não garante o seu sucesso incondicional para outras situações, como o exercício físico.

Eficiência

Um dos questionamentos mais relevantes em relação à utilização de suplementos alimentares é sobre a sua eficiência. Infelizmente, a resposta tão esperada não virá tão cedo. Segundo BUTTERFIELD (1996) 3 fatores são responsáveis pela dificuldade de responder esta questão: grande variedade de produtos; falta de interesse e omissão dos pesquisadores e falta de controle sobre os fabricantes. Outro fator que compromete a credibilidade dos estudos relacionados à suplementação nutricional é que muitas vezes os mesmos são conduzidos e patrocinados pelos fabricantes, sendo posteriormente publicados nos seus jornais.

Além disto, os resultados de algumas destas "pesquisas" são obtidos em condições diferentes daquelas que os fabricantes atribuem a eficiência do suplemento alimentar. Evidências obtidas em animais (ratos, cães e porcos) são freqüentemente extrapoladas para seres humanos, da mesma forma que resultados observados na prática clínica são para o exercício físico.

É importante analisar a literatura disponível de maneira extremamente crítica, verificando se os cuidados com o modelo experimental foram devidamente observados, tais como: evitar a ocorrência do efeito placebo, selecionar amostra, elaborar protocolos de testes fidedignos.

Segurança e Qualidade

Muitas pessoas acreditam que o suplemento alimentar é simplesmente um produto desenvolvido (através de processos químicos) que pode substituir um alimento com objetivo de complementar a dieta. Realmente, este é o conceito que o nome "suplemento alimentar" passa, porém a questão não tão simples assim. Será que ingestão de uma quantidade elevada e concentrada de uma determinada substância tem o mesmo impacto fisiológico sobre o nosso organismo que um alimento?

A título de ilustrar a polêmica com relação à segurança do uso de suplementos alimentares pode-se citar o caso do triptofano. O triptofano é um aminoácido encontrado nas fontes de proteína na nossa dieta. Através de processos de purificação e isolamento, é possível concentrar uma grande quantidade deste aminoácido, colocá-lo em um recipiente e comercializá-lo como suplemento alimentar, uma vez que o mesmo é parte constituinte da nossa dieta. No entanto, em 1995, o triptofano foi proibido no EUA e no Canadá por estar possivelmente relacionado a vários casos de intoxicação, seguidos de óbito. É importante ressaltar que não ficou bem claro se o responsável pelas mortes foi o triptofano ou a contaminação do produto. Portanto, isolar e concentrar uma determinada substância, mesmo que esta seja parte constituinte da nossa dieta, não a torna automaticamente segura para o consumo .

A qualidade do suplemento também pode constituir um problema. Por exemplo, a purificação e a extração da creatina envolve diversos processos químicos extremamente complexos que se não forem altamente controlados podem gerar alguns subprodutos tóxicos (BENZI, 2000). Ainda com relação à qualidade, estudos recentes realizados em produtos comercializados, contendo as mais diversas substâncias, demonstraram que mais da metade dos produtos analisados diferiam em média 20% em relação à composição descrita nos rótulos (BACURAU et al., 2000).

Uma citação que estimula a reflexão sobre a questão da segurança dos suplementos nutricionais é a seguinte: - "uma das leis fundamentais da Biologia é que qualquer substância que afeta ou altera a fisiologia pode ser tóxica se ingerida em excesso" (Melvin H. Willians, PhD).

Conclusão

Indubitavelmente, os suplementos alimentares são importantes ferramentas que em situações específicas podem auxiliar no tratamento de patologias, como também no desempenho atlético, porém isto não justifica seu uso indiscriminado pela população em geral que busca apenas melhoria da qualidade de vida. É importante ressaltar que a maioria das pesquisas científicas disponíveis que tentam esclarecer a questão dos suplementos alimentares é realizada em atletas, o que dificulta extrapolar estes resultados para população em geral. Isto se deve ao fato de que freqüentadores de academias ou indivíduos engajados em programas de atividades físicas regular têm necessidades e demandas diferentes de atletas.

Ainda é cedo para um posicionamento definitivo sobre o uso de suplementos nutricionais. Não se deve simplesmente condenar a utilização de suplementos nutricionais ou fazer uma apologia incentivando o consumo destas substâncias, entretanto é de fundamental importância alertar e criar uma consciência crítica da real necessidade deste tipo de estratégia por parte de indivíduos fisicamente ativos (freqüentadores de academias, de clubes ou de centros esportivos) que estão preocupados com a promoção da saúde.


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