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Testosterona em gel (AndroGel®)

Saiba tudo sobre testosterona em gel (AndroGel®): como ciclar, efeitos colaterais, para que serve e mais


Testosterona em gel

Imagem meramente ilustrativa e que pode ser fictícia.

Tabela resumida
Princípio ativo: Testosterona em gel
Nome comercial mais conhecido: AndroGel®
Família: Testosterona (base, aplicação transdérmica)
Forma: Gel hidroalcoólico para aplicação na pele
Meia-vida: <24h
Anabolismo (hipertrofia):
Androgenia (masculinização):
Estrogenismo (feminilização):
Hepatoxidade:
Efeito lipolítico (queima de gordura):
Retenção hídrica:
Distúrbios psicológicos:
Disponibilidade (acesso no mercado):
Preço (custo):

Introdução

O que é a testosterona em gel?

A testosterona em gel é uma preparação farmacêutica destinada à aplicação tópica, contendo testosterona pura (base, não esterificada) dispersa em um veículo, comumente um gel hidroalcoólico. Sua formulação é projetada para ser aplicada diretamente sobre a pele intacta, permitindo que a testosterona, uma molécula lipofílica, seja absorvida através das camadas da pele (absorção transdérmica) e alcance a corrente sanguínea sistêmica.

Esta forma de administração representa uma alternativa não invasiva às formulações injetáveis para a terapia de reposição de testosterona (TRT). O objetivo principal do uso diário do gel é fornecer uma reposição hormonal que busca mimetizar o ritmo circadiano natural da produção de testosterona, resultando em níveis séricos relativamente estáveis ao longo do dia, diferentemente dos picos e vales associados a algumas formas injetáveis.

Um pouco da história

O desenvolvimento de sistemas para a administração transdérmica de testosterona foi motivado pela necessidade de superar limitações das terapias existentes para o hipogonadismo masculino. As injeções intramusculares de ésteres de testosterona, embora eficazes, frequentemente resultavam em flutuações suprafisiológicas e subfisiológicas dos níveis hormonais entre as doses, o que podia impactar o humor, a energia e a libido do paciente. Por outro lado, as formulações orais de testosterona modificada (esteroides C17-alfa-alquilados) estavam associadas a um risco significativo de hepatotoxicidade.

A busca por uma entrega mais estável e segura levou ao desenvolvimento dos primeiros adesivos transdérmicos de testosterona nas décadas de 1980 e 1990. Embora representassem um avanço ao permitir a absorção contínua, esses adesivos frequentemente causavam irritação cutânea significativa no local de aplicação, limitando sua aceitabilidade e adesão ao tratamento por parte dos pacientes.

Nesse contexto, os géis de testosterona surgiram no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 como uma alternativa transdérmica com melhor perfil de tolerabilidade cutânea. Um dos pioneiros e mais bem-sucedidos foi o AndroGel®, lançado nos Estados Unidos em 2000 pela Unimed Pharmaceuticals (posteriormente Solvay/AbbVie), após estudos clínicos demonstrarem sua eficácia e um perfil de reações cutâneas locais consideravelmente menor em comparação aos adesivos disponíveis na época. Logo após, outras marcas como Testim® e Testogel® (Besins Healthcare/Bayer) foram introduzidas em diversos mercados, seguidas por formulações com diferentes concentrações ou sistemas de aplicação, como bombas dosadoras (pump) e aplicadores específicos (ex: Fortesta®, Axiron®).

Os géis rapidamente ganharam popularidade como opção de TRT, oferecendo a conveniência da autoaplicação diária e a manutenção de níveis séricos de testosterona relativamente estáveis dentro da faixa fisiológica. No entanto, desde o início, duas limitações importantes foram reconhecidas: a variabilidade interindividual na absorção transdérmica e, crucialmente, o risco inerente de transferência inadvertida da testosterona para outras pessoas através do contato pele a pele com o local de aplicação. Este último ponto tornou-se um foco central nas advertências de segurança e nas instruções de uso desses produtos.

Status legal

No Brasil, a testosterona em gel, assim como outras formulações de testosterona e esteroides anabolizantes, está sujeita a controle regulatório rigoroso.

  • Classificação ANVISA: a testosterona, seus sais e isômeros são classificados como Substâncias Anabolizantes e constam na Lista C5 da Portaria SVS/MS nº 344/98 e suas atualizações subsequentes. Esta classificação reflete o potencial de abuso e os riscos associados ao uso indevido.
  • Exigência de prescrição: devido à sua classificação na Lista C5, a dispensação de testosterona em gel exige a apresentação de uma Receita de Controle Especial (RCE) emitida em duas vias, sendo uma retida pela farmácia.

Disponibilidade no mercado brasileiro

  • Produtos industrializados: diversas marcas comerciais de testosterona em gel, como AndroGel® (Besins Healthcare), estão registradas na ANVISA e disponíveis em farmácias e drogarias, mediante a apresentação da RCE.
  • Manipulação: embora seja tecnicamente possível manipular géis transdérmicos de testosterona em farmácias de manipulação, esta prática é menos comum e apresenta desafios significativos. A complexidade reside em garantir a concentração correta do princípio ativo, a escolha de um veículo que promova a absorção transdérmica adequada e consistente, e a estabilidade da formulação. Estudos e diretrizes frequentemente recomendam o uso de preparações comerciais padronizadas devido à potencial variabilidade das formulações manipuladas.
  • Mercado paralelo: assim como outros esteroides anabolizantes, existe a possibilidade de desvio da testosterona em gel para o mercado ilegal. Contudo, devido ao custo relativamente mais alto por dose efetiva e à menor praticidade para atingir doses suprafisiológicas em comparação com os injetáveis, o desvio para fins de abuso em performance pode ser menos prevalente.

Regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM)

O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou  a Resolução CFM nº 2.333/2023. Esta resolução veda explicitamente aos médicos a prescrição de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes – incluindo a testosterona – com finalidade puramente estética (sem diagnóstico de deficiência hormonal), para ganho de massa muscular ou para melhora do desempenho esportivo em atletas amadores ou profissionais.

A resolução se baseia na falta de evidências científicas robustas que comprovem benefícios que superem os riscos potenciais à saúde nesses contextos, reforçando que o uso da testosterona deve se restringir às indicações terapêuticas comprovadas, como o hipogonadismo masculino diagnosticado. Esta normativa clara visa coibir o uso indevido e proteger a saúde dos pacientes, mas evidencia a tensão existente entre a demanda por usos não médicos e as diretrizes clínicas e regulatórias baseadas em segurança e eficácia comprovadas.

Status de doping

A testosterona é classificada pela Agência Mundial Antidoping (WADA) como um agente anabolizante, pertencente à subcategoria S1.1 Esteroides Androgênicos Anabolizantes (AAS). Como substância da classe S1, a testosterona é proibida permanentemente, tanto em competição quanto fora de competição, para todos os atletas sujeitos ao Código Mundial Antidoping.

Detecção em testes antidoping

A testosterona administrada exogenamente através do gel pode ser detectada em testes antidoping. Métodos sofisticados, como a Espectrometria de Massa de Razão Isotópica (IRMS), são capazes de diferenciar a testosterona exógena daquela produzida endogenamente pelo organismo, analisando a razão dos isótopos de carbono na urina do atleta. Um perfil esteroidal atípico também pode indicar o uso exógeno.

Embora a interrupção da aplicação diária do gel resulte em uma queda relativamente rápida dos níveis séricos de testosterona (retornando à linha de base em cerca de 3 a 5 dias), a janela de detecção no controle de dopagem pode ser mais longa. Metabólitos da testosterona ou alterações no perfil esteroidal podem permanecer detectáveis na urina por vários dias ou até algumas semanas após a cessação do uso, tornando o uso de testosterona em gel extremamente arriscado para atletas que podem ser submetidos a testes.

Contexto no fisiculturismo

O uso de testosterona em gel, assim como qualquer outro esteroide anabolizante, é estritamente proibido no fisiculturismo natural.

No fisiculturismo tradicional (untested), mesmo em categorias onde o controle de dopagem é inexistente ou menos rigoroso, a testosterona em gel é considerada uma opção impraticável e ineficaz para os objetivos de hipertrofia e ganho de força significativos (níveis suprafisiológicos) almejados por muitos atletas. As razões para essa inadequação são múltiplas e interligadas:

  • Absorção limitada e variável: a biodisponibilidade transdérmica da testosterona em gel é relativamente baixa (aproximadamente 10% da dose aplicada é absorvida sistemicamente para algumas formulações) e pode variar entre indivíduos e condições de aplicação. Isso torna extremamente difícil, senão impossível, atingir e manter os níveis séricos muito elevados de testosterona geralmente buscados para maximizar o anabolismo muscular no fisiculturismo de alta performance.
  • Custo proibitivo: para tentar compensar a baixa absorção e atingir doses suprafisiológicas, seria necessário aplicar quantidades massivas de gel diariamente. Por exemplo, para absorver 50mg/dia (uma dose ainda moderada para muitos fisiculturistas), seria preciso aplicar cerca de 500mg de testosterona em gel (equivalente a 10 sachês de 50mg de AndroGel® 1%), o que tornaria o custo financeiro proibitivo.
  • Inconveniência: a aplicação diária de grandes volumes de gel em áreas extensas do corpo é impraticável e inconveniente.
  • Risco elevado de transferência: o uso de grandes quantidades de gel aumentaria exponencialmente o risco de transferência acidental para parceiros, filhos, ou outras pessoas, com potenciais consequências graves para a saúde deles.

Em suma, as características farmacocinéticas intrínsecas (baixa biodisponibilidade) e o custo associado tornam o gel de testosterona uma escolha fundamentalmente inadequada para os objetivos de doping no fisiculturismo, onde se buscam níveis hormonais muito elevados de forma mais controlável e econômica, geralmente através de formulações injetáveis.

Para que serve (efeitos esperados)

Usos médicos aprovados

A única indicação médica formalmente aprovada para a testosterona em gel é a Terapia de Reposição de Testosterona (TRT) em homens adultos que apresentam diagnóstico confirmado de hipogonadismo. Este diagnóstico deve ser baseado tanto em sinais e sintomas clínicos consistentes com a deficiência de testosterona (como diminuição da libido, disfunção erétil, fadiga, perda de massa muscular, humor deprimido, diminuição de pelos corporais) quanto na confirmação laboratorial de níveis séricos de testosterona abaixo da faixa de normalidade em pelo menos duas medições matinais. O hipogonadismo pode ser primário (falha testicular) ou secundário/hipogonadotrópico (falha hipotalâmica ou hipofisária).

O objetivo da TRT com testosterona em gel é restaurar os níveis séricos de testosterona para a faixa fisiológica considerada normal para homens adultos saudáveis (os valores de referência exatos podem variar ligeiramente entre laboratórios e diretrizes, mas geralmente buscam-se níveis na faixa média a média-alta da normalidade), aliviando assim os sintomas associados à deficiência androgênica e ajudando a manter a densidade óssea, a composição corporal e o bem-estar geral.

Principais efeitos fisiológicos e desejados (não médicos/uso off-label)

O uso da testosterona em gel para performance (fisiculturismo), ou seja para fins de ganho substancial de massa muscular (bulking) ou força é amplamente considerado ineficaz e impraticável. A quantidade de testosterona que pode ser realisticamente absorvida pela pele diariamente é insuficiente para promover os efeitos anabólicos suprafisiológicos desejados nesse contexto. Além disso, tal uso é proibido por regulamentações médicas (CFM) e esportivas (WADA).

Algumas pessoas sem diagnóstico de hipogonadismo podem buscar usar testosterona em gel na expectativa de obter melhorias leves na libido, humor, níveis de energia ou composição corporal. No entanto, este uso é considerado off-label, não possui respaldo científico robusto que justifique os riscos potenciais e é explicitamente vedado pela Resolução CFM nº 2.333/2023.9 Para indivíduos eugonádicos (com níveis normais de testosterona), os benefícios de adicionar testosterona exógena são incertos e os riscos de efeitos colaterais (incluindo supressão da produção endógena) e de transferência são presentes.

Mecanismo de ação

O mecanismo de ação da testosterona administrada via gel envolve etapas sequenciais desde a aplicação até a interação com os receptores celulares:

  • Aplicação e penetração cutânea: após a aplicação do gel na pele, o veículo hidroalcoólico evapora rapidamente. Isso aumenta a concentração da testosterona na superfície da pele, criando um gradiente de concentração que favorece sua difusão passiva através do estrato córneo (a camada mais externa e principal barreira da pele). A natureza lipofílica da molécula de testosterona facilita essa passagem.
  • Formação de reservatório: a testosterona penetra nas camadas mais profundas da epiderme e derme, onde parte dela pode formar um reservatório superficial. Este reservatório libera a testosterona de forma gradual para a circulação local.
  • Absorção sistêmica: a partir da derme, a testosterona alcança a microcirculação, entrando nos capilares sanguíneos e linfáticos. Desta forma, ela bypassa o metabolismo de primeira passagem hepática (que ocorreria com a administração oral) e entra diretamente na circulação sistêmica.
  • Transporte e distribuição: uma vez na corrente sanguínea, a maior parte da testosterona (~98%) liga-se a proteínas transportadoras, principalmente à Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais (SHBG) e, em menor grau, à albumina. Apenas uma pequena fração (~2%) permanece livre ou fracamente ligada à albumina, sendo esta a forma biologicamente ativa.
  • Interação com receptores: a testosterona livre ou dissociada das proteínas transportadoras difunde-se para os tecidos-alvo e entra nas células. Dentro da célula, ela pode atuar diretamente ligando-se aos Receptores de Andrógenos (AR) no citoplasma ou no núcleo. O complexo testosterona-AR então se transloca para o núcleo (se já não estiver lá), liga-se a sequências específicas do DNA (Elementos de Resposta a Hormônios - HREs) e modula a transcrição de genes-alvo, resultando nos efeitos fisiológicos androgênicos e anabólicos.
  • Metabolismo periférico: em alguns tecidos, a testosterona pode ser metabolizada antes de interagir com o receptor ou após sua ação:
    • Conversão em DHT: a enzima 5α-redutase converte a testosterona em diidrotestosterona (DHT), um andrógeno mais potente que se liga com maior afinidade ao AR. A DHT é responsável por muitos dos efeitos androgênicos, como desenvolvimento dos genitais externos, crescimento de pelos corporais e faciais, e atividade das glândulas sebáceas.
    • Aromatização em estradiol: a enzima aromatase converte a testosterona em estradiol, um estrogênio. O estradiol também desempenha papéis fisiológicos importantes em homens (saúde óssea, função sexual, regulação do eixo HPT), mas níveis excessivos podem levar a efeitos colaterais estrogênicos como ginecomastia e retenção hídrica.

Farmacocinética

A farmacocinética descreve como o corpo absorve, distribui, metaboliza e excreta um fármaco. Para a testosterona em gel, as características transdérmicas são cruciais.

A absorção se dá desta forma:

  • Via: transdérmica, através da pele intacta.
  • Taxa: a absorção é relativamente lenta e projetada para ser sustentada ao longo das 24 horas após uma única aplicação diária, permitindo a manutenção de níveis terapêuticos com dosagem única diária.
  • Biodisponibilidade: a quantidade de testosterona que efetivamente alcança a circulação sistêmica é apenas uma fração da dose total aplicada no gel. Para o AndroGel 1%, estima-se que aproximadamente 10% da testosterona aplicada seja absorvida. Formulações mais recentes ou mais concentradas podem apresentar biodisponibilidade ligeiramente diferente. Essa baixa biodisponibilidade é um fator chave que limita o uso do gel para atingir níveis suprafisiológicos.
  • Variabilidade: a absorção transdérmica pode apresentar variabilidade considerável entre diferentes indivíduos e até no mesmo indivíduo dependendo de vários fatores:
    • Local de aplicação: os locais recomendados (ombros, braços, abdômen) foram escolhidos com base em estudos que mostraram absorção adequada e conveniência. A aplicação no abdômen pode resultar em absorção ligeiramente menor (~30% inferior) do que nos braços/ombros para algumas formulações. É crucial evitar a aplicação nos genitais (escroto), pois a pele escrotal é muito mais permeável e resultaria em absorção significativamente maior e mais rápida, não prevista ou estudada para as doses dos géis comerciais.
    • Condição da pele: a pele deve estar limpa, seca e intacta. Pele lesionada, inflamada ou excessivamente hidratada pode alterar a taxa de absorção.
    • Fatores ambientais e comportamentais: sudorese intensa logo após a aplicação, tomar banho ou nadar antes do tempo recomendado (geralmente 2 a 6 horas, dependendo do produto), ou a fricção excessiva da roupa sobre o local podem remover o gel residual e diminuir a quantidade total absorvida.

Quanto aos níveis séricos, podemos destacar:

  • Estado de equilíbrio (Steady-State): com a aplicação diária regular, os níveis séricos de testosterona geralmente atingem um estado de equilíbrio, onde a quantidade absorvida se iguala à quantidade eliminada, dentro de 2 a 3 dias.
  • Perfil diurno: os níveis séricos tendem a seguir um padrão que mimetiza a variação diurna fisiológica, com concentrações mais elevadas nas horas seguintes à aplicação (geralmente matinal) e níveis mais baixos aproximadamente 24 horas depois, imediatamente antes da próxima dose. O tempo exato para atingir a concentração máxima (Cmax) varia entre as diferentes formulações (ver Tabela Comparativa abaixo).
  • Flutuações: uma das principais vantagens farmacocinéticas dos géis em comparação com as injeções intramusculares de ésteres de testosterona (como cipionato ou enantato administrados a cada 1-4 semanas) é a manutenção de níveis séricos mais estáveis, com menores picos e vales. Essa estabilidade pode se traduzir em benefícios clínicos, como humor, energia e libido mais consistentes para o paciente em TRT. No entanto, essa estabilidade depende criticamente da adesão rigorosa à aplicação diária.

Tabela comparativa da farmacocinética de exemplos de formulações tópicas de testosterona:

Nome Comercial / Formulação Dose Típica Inicial (mg T/dia) Local de Aplicação Recomendado Tempo Médio para Pico (Tmax, horas) Observações Chave
AndroGel® 1% 50 mg Ombros, Braços, Abdômen ~16-22 Absorção contínua ao longo de 24h.
AndroGel® 1.62% 40.5 mg Ombros, Braços Varia; níveis estáveis em dias. Maior concentração, menor volume de gel.
Fortesta® 2% Gel 40 mg Coxas (parte interna) ~2-4 Bomba dosadora permite ajustes finos (10mg).
Testim® 1% Gel 50 mg Ombros, Braços ~24 Não bioequivalente ao AndroGel 1%.
Axiron® 2% Solução 60 mg Axilas ~2-4 Aplicador para reduzir contato manual com produto.

Nota: dados de Tmax são aproximados e podem variar. Consultar a bula específica do produto para informações completas.

Meia-vida (T½)

  • Testosterona sistêmica: a meia-vida da molécula de testosterona livre na circulação sanguínea é intrinsecamente curta, geralmente na ordem de minutos a poucas horas. Isso difere da meia-vida aparente dos ésteres de testosterona injetáveis (ex: cipionato, enantato), que é de vários dias (aprox. 7-8 dias) e reflete a liberação lenta do éster do depósito oleoso, não a eliminação da testosterona ativa em si.
  • Duração do efeito do gel: para o gel transdérmico, a duração do efeito e a necessidade de aplicação diária não são determinadas pela meia-vida da testosterona circulante, mas sim pela cinética de liberação da testosterona a partir do reservatório formado na pele e pela taxa de absorção contínua ao longo das 24 horas.
  • Descontinuação: se a aplicação diária do gel for interrompida, a fonte exógena de testosterona cessa. Os níveis séricos começam a diminuir à medida que a testosterona residual no reservatório cutâneo se esgota e a testosterona circulante é metabolizada e eliminada. Geralmente, os níveis retornam aos valores basais (pré-tratamento) dentro de aproximadamente 3 a 5 dias após a última aplicação.

Distribuição/metabolismo/excreção

  • Distribuição: após entrar na circulação, a testosterona se distribui amplamente pelos tecidos do corpo. Como mencionado, está extensivamente ligada a proteínas plasmáticas (SHBG e albumina), com apenas uma pequena fração livre disponível para exercer atividade biológica.
  • Metabolismo: a testosterona que entra na circulação é metabolizada principalmente no fígado, mas também em tecidos extra-hepáticos. As principais vias metabólicas incluem a conversão em DHT pela 5α-redutase e em estradiol pela aromatase (como descrito no Mecanismo de Ação), além da oxidação nos grupos 17-hidroxila e 3-ceto, seguida de conjugação.
  • Excreção: os metabólitos inativos da testosterona, principalmente na forma de conjugados de ácido glucurônico e sulfúrico, são excretados predominantemente pelos rins. Cerca de 90% de uma dose de testosterona é eliminada na urina como esses conjugados. Uma pequena fração é excretada nas fezes através da bile.

Efeitos colaterais

O perfil de efeitos colaterais da testosterona em gel é uma combinação dos riscos sistêmicos inerentes à própria terapia com testosterona e dos riscos específicos associados à via de administração tópica, nomeadamente a irritação cutânea e o potencial de transferência para outras pessoas.

Efeitos sistêmicos relacionados à testosterona (dose-dependentes)

Estes efeitos podem ocorrer com qualquer forma de TRT e sua incidência e gravidade dependem da dose absorvida, dos níveis séricos atingidos e da sensibilidade individual. A TRT com gel visa manter os níveis dentro da faixa fisiológica, o que tende a minimizar esses riscos em comparação com o abuso de doses suprafisiológicas, mas eles ainda podem ocorrer.

Efeitos colaterais estrogênicos

Os efeitos estrogênicos (devido à aromatização) são:

  • ginecomastia (desenvolvimento do tecido mamário masculino);
  • sensibilidade mamária;
  • retenção de sódio e água, podendo levar a edema (inchaço), especialmente em pacientes predispostos.

Efeitos colaterais androgênicos

Os efeitos androgênicos são:

  • acne;
  • pele oleosa;
  • aumento da oleosidade capilar;
  • aumento de pelos corporais (hirsutismo);
  • possível aceleração ou piora da alopecia androgênica (calvície de padrão masculino) em indivíduos geneticamente predispostos;
  • aumento do tamanho da próstata (podendo piorar sintomas de Hiperplasia Prostática Benigna - HPB);
  • aumento dos níveis de Antígeno Prostático Específico (PSA).

Efeitos colaterais de supressão de testosterona

O uso da testosterona em gel pode causar a supressão do eixo hipotálamo-pituitária-testicular (HPTA). A administração exógena de testosterona suprime a liberação de GnRH pelo hipotálamo e de LH e FSH pela hipófise, resultando na diminuição ou interrupção da produção endógena de testosterona pelos testículos e da espermatogênese (produção de espermatozoides), podendo levar a oligospermia (baixa contagem de espermatozoides) ou azoospermia (ausência de espermatozoides) e infertilidade masculina reversível ou, em casos de uso prolongado ou abuso, potencialmente irreversível. Atrofia testicular também pode ocorrer.

Efeitos colaterais cardiovasculares e hematológicos

  • Policitemia/eritrocitose: aumento do número de glóbulos vermelhos, resultando em elevação do hematócrito (Hct) e da hemoglobina (Hb). É um efeito colateral comum da TRT. Hematócrito elevado aumenta a viscosidade sanguínea e o risco de eventos tromboembólicos (formação de coágulos), como Trombose Venosa Profunda (TVP) e Embolia Pulmonar (EP). O monitoramento regular do Hct é essencial.
  • Alterações lipídicas: pode ocorrer diminuição dos níveis de HDL ("colesterol bom") e alterações nos níveis de LDL e triglicerídeos.
  • Eventos cardiovasculares maiores: algumas evidências sugerem um possível aumento do risco de eventos como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, embora a relação causal e a magnitude do risco ainda sejam debatidas, especialmente com a TRT que mantém níveis fisiológicos. Cautela é necessária em pacientes com doença cardiovascular preexistente.
  • Insuficiência cardíaca: a retenção de fluidos pode piorar a insuficiência cardíaca congestiva.

Efeitos colaterais psicológicos

Há ainda efeitos psicológicos/comportamentais. Pode haver mudanças de humor, incluindo irritabilidade, agressividade, impaciência, ansiedade ou depressão.

Efeitos colaterais gerais

Além dos efeitos já mencionados, há risco de outros efeitos sistêmicos:

  • piora da apneia obstrutiva do sono;
  • alterações em testes de função hepática (raras com géis, pois não há metabolismo de primeira passagem significativo, mas podem ocorrer);
  • alterações na libido (geralmente aumento com a normalização dos níveis, mas pode haver variações).

Efeitos colaterais locais (aplicação tópica)

Pode ocorrer irritação cutânea, por reações no local de aplicação. Elas são relativamente comuns com géis de testosterona, embora geralmente menos frequentes ou intensas do que com os adesivos mais antigos. Podem manifestar-se como:

  • Vermelhidão (eritema);
  • Coceira (prurido);
  • Ressecamento da pele;
  • Sensação de queimação ou ardência;
  • Erupção cutânea (rash) ou dermatite de contato.
  • Odor: alguns pacientes podem notar um odor alcoólico durante e logo após a aplicação do gel, devido à evaporação do veículo.

Geralmente, essas reações são leves a moderadas e podem diminuir com o tempo ou com a alternância dos locais de aplicação. No entanto, em alguns casos, podem ser suficientemente incômodas para levar à descontinuação do tratamento.

Risco de transferência (exposição secundária)

Este é um risco muito importante e específico das formulações tópicas de testosterona (géis, soluções, cremes) e é objeto de advertências rigorosas por parte das agências regulatórias (incluindo um "Boxed Warning" pela FDA nos EUA).

  • Mecanismo: ocorre quando a testosterona que permanece na superfície da pele do paciente após a aplicação do gel é transferida para outra pessoa através do contato direto pele a pele.
  • Populações de risco: o risco é particularmente preocupante para mulheres (especialmente grávidas ou lactantes) e crianças, que são mais sensíveis aos efeitos androgênicos da testosterona. Animais de estimação também podem ser expostos.
  • Consequências em crianças: a exposição acidental pode levar à virilização inapropriada e puberdade precoce, incluindo: aumento do pênis (em meninos) ou do clitóris (em meninas), desenvolvimento precoce de pelos pubianos, aumento da frequência de ereções, aumento da libido, comportamento agressivo ou irritável. Além disso, pode ocorrer avanço da idade óssea, o que pode resultar em fechamento prematuro das epífises ósseas e comprometer a estatura final da criança na vida adulta.
  • Consequências em mulheres: a exposição pode causar sinais de virilização, como: aparecimento ou aumento de pelos faciais ou corporais (hirsutismo), acne, alterações ou engrossamento da voz, irregularidades ou interrupção do ciclo menstrual, aumento do clitóris. Em mulheres grávidas, a exposição fetal à testosterona pode causar danos ao desenvolvimento do feto.
  • Necessidade de precauções: dada a gravidade potencial dessas consequências, a adesão estrita às precauções para evitar a transferência é mandatória e não opcional.

Efeitos colaterais hepatotóxicos

Como a via transdérmica evita o metabolismo de primeira passagem pelo fígado, o risco de hepatotoxicidade direta associado aos esteroides C17-alfa-alquilados orais é mínimo ou inexistente com o uso de testosterona em gel.

Superdosagem e uso indevido

Superdosagem Aguda

Uma superdosagem aguda por aplicação excessiva de gel em uma única ocasião é improvável de causar toxicidade sistêmica grave imediata. No entanto, resultará em níveis séricos de testosterona mais elevados do que o pretendido, aumentando agudamente o risco de efeitos colaterais relacionados à dose (ex: alterações de humor, retenção hídrica) e, crucialmente, aumentando a quantidade de testosterona residual na pele, o que eleva significativamente o risco de transferência para outras pessoas.

Uso crônico excessivo (abuso)

O uso contínuo de doses de testosterona em gel mais altas do que as prescritas para TRT (tentativa de uso indevido) levaria aos riscos bem documentados associados ao abuso de esteroides anabolizantes em geral. Isso inclui potenciais danos cardiovasculares (hipertrofia cardíaca, dislipidemia, risco aumentado de trombose), hepáticos (embora menos comum com não-C17aa), renais, endócrinos (supressão prolongada do eixo HPTA, infertilidade, atrofia testicular), psiquiátricos (dependência, agressividade, depressão, psicose) e dermatológicos (acne severa). Sintomas de abstinência podem ocorrer na interrupção abrupta após uso abusivo.

Uso indevido para performance

Como já extensivamente discutido, o uso de testosterona em gel para fins de melhora de desempenho atlético ou ganho de massa muscular significativo é considerado ineficaz e impraticável devido às limitações farmacocinéticas (baixa absorção), custo elevado para doses suprafisiológicas e inconveniência (encher o corpo de gel). Além disso, é proibido por regulamentações médicas e esportivas.

Contraindicações

Existem situações em que o uso de testosterona em gel é absolutamente contraindicado e outras em que precauções rigorosas são necessárias.

Contraindicações absolutas

O uso de testosterona em gel é estritamente proibido nas seguintes condições:

  • Câncer de mama masculino: a testosterona pode estimular o crescimento de tumores mamários andrógeno-dependentes.1
  • Câncer de próstata conhecido ou suspeito: A testosterona pode estimular o crescimento de câncer de próstata andrógeno-dependente. Por isso, a investigação para excluir câncer de próstata é necessária antes de iniciar a TRT.
  • Gravidez e lactação: a testosterona é contraindicada em mulheres, especialmente durante a gravidez (categoria X da FDA), devido ao risco de virilização do feto feminino. Mulheres grávidas ou que possam engravidar devem evitar estritamente qualquer exposição à testosterona, incluindo o contato com a pele de homens que utilizam o gel. A testosterona também pode passar para o leite materno.
  • Hipersensibilidade: alergia conhecida ou hipersensibilidade grave à testosterona ou a qualquer um dos excipientes presentes na formulação do gel.

Contraindicações relativas/precauções graves

Estas são condições em que o uso de testosterona pode ser considerado, mas exige avaliação cuidadosa do risco-benefício, monitoramento rigoroso e, potencialmente, manejo da condição subjacente antes ou durante a TRT:

  • Hiperplasia prostática benigna (HPB) sintomática grave: a testosterona pode piorar os sintomas urinários obstrutivos em homens com HPB.
  • Policitemia ou eritrocitose: níveis elevados de hematócrito (geralmente > 50-54%, dependendo da diretriz clínica) aumentam o risco de eventos tromboembólicos. A TRT não deve ser iniciada ou deve ser interrompida se o hematócrito exceder o limite seguro.
  • Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) grave ou não controlada: a retenção de sódio e água induzida pela testosterona pode exacerbar a ICC.
  • Apneia obstrutiva do sono (AOS) grave e não tratada: a testosterona pode piorar a AOS. O tratamento da AOS deve ser otimizado antes de considerar a TRT.
  • Histórico recente de eventos cardiovasculares graves: como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral nos últimos 3 a 6 meses.
  • Desejo de fertilidade masculina: a TRT suprime a espermatogênese. Homens que desejam ter filhos a curto prazo devem ser aconselhados sobre alternativas ou estratégias para preservar a fertilidade.

Precauções e advertências

Além das contraindicações, várias precauções e advertências devem ser observadas durante o uso de testosterona em gel para garantir a segurança do paciente e de terceiros.

Prevenção de transferência (ênfase crucial)

A prevenção da transferência acidental de testosterona para outras pessoas é, talvez, a precaução mais crítica e específica do uso de géis tópicos. Dada a gravidade das potenciais consequências (virilização em mulheres, puberdade precoce e problemas de crescimento em crianças), as medidas para evitar a transferência não são meras sugestões, mas sim requisitos essenciais e não negociáveis para o uso seguro do medicamento. A educação do paciente e a adesão rigorosa a estas práticas são primordiais.

As seguintes etapas devem ser seguidas sem exceção:

  • Aplicação correta: aplicar o gel APENAS na pele limpa, seca e INTACTA das áreas recomendadas pela bula do produto específico (geralmente ombros, parte superior dos braços e/ou abdômen). NUNCA aplicar nos genitais (pênis ou escroto), mamas, costas, axilas (a menos que seja uma formulação específica para axilas como Axiron®) ou em pele com cortes, arranhões, queimaduras, erupções ou qualquer tipo de lesão ou irritação.
  • Lavagem das mãos: lavar BEM as mãos com água e sabão IMEDIATAMENTE após cada aplicação para remover qualquer resíduo de gel.
  • Secagem completa: permitir que o gel seque COMPLETAMENTE na pele por alguns minutos antes de se vestir. O tempo exato pode variar ligeiramente entre produtos.
  • Advertência de inflamabilidade: o gel contém álcool e é inflamável até secar. Evitar fogo, chamas abertas (incluindo cigarros) durante e logo após a aplicação, até que o local esteja completamente seco.
  • Cobertura do local: SEMPRE cobrir o local de aplicação com roupa (por exemplo, uma camiseta) após o gel ter secado. Isso cria uma barreira física para reduzir o risco de contato direto.
  • Evitar contato pele a pele: evitar o contato direto da pele da área de aplicação (mesmo que coberta, como precaução adicional) com a pele de outras pessoas, especialmente mulheres e crianças.
  • Lavagem antes de contato próximo: LAVAR cuidadosamente a área de aplicação com água e sabão ANTES de qualquer situação em que se preveja contato pele a pele próximo ou íntimo.
  • Comunicação e instrução: informar parceiros(as) e familiares que convivem proximamente sobre o uso do gel e o risco de transferência. Instruí-los sobre as precauções necessárias e sobre como agir em caso de contato acidental.
  • Ação em caso de contato acidental: se ocorrer contato acidental de outra pessoa com a área de aplicação não lavada ou descoberta, a pessoa exposta deve lavar a área de contato da sua própria pele imediatamente com água e sabão.
  • Vigilância de sinais de transferência em contatos próximos: o paciente e o médico devem estar atentos a quaisquer sinais ou sintomas sugestivos de exposição secundária à testosterona em pessoas que convivem com o paciente (ex: desenvolvimento de pelos, acne ou alterações menstruais em mulheres; sinais de puberdade precoce ou agressividade em crianças). Se tais sinais forem observados, deve-se procurar orientação médica imediatamente e investigar a possibilidade de transferência.

Outras precauções importantes

  • Monitoramento cardiovascular e hematológico: acompanhar hematócrito/hemoglobina para detectar policitemia. Avaliar o risco cardiovascular global do paciente. Estar atento a sinais/sintomas de eventos tromboembólicos (TVP/EP).
  • Avaliação prostática: realizar monitoramento do PSA e exame retal digital (DRE) conforme as diretrizes clínicas apropriadas para a idade e risco do paciente, devido ao potencial da testosterona de estimular o crescimento de tecido prostático (HPB ou câncer subclínico).
  • Apneia do sono: monitorar piora da apneia do sono em pacientes com essa condição preexistente.
  • Edema: usar com cautela em pacientes com doença cardíaca, renal ou hepática, devido ao risco de retenção de fluidos e piora do edema.
  • Uso em idosos: a decisão de iniciar ou continuar a TRT em homens idosos deve ser individualizada, pesando os potenciais benefícios contra os riscos aumentados de certas comorbidades (cardiovasculares, prostáticas).
  • Interações medicamentosas: verificar e manejar potenciais interações com outros medicamentos que o paciente esteja utilizando.

Monitoramento médico essencial

A Terapia de Reposição de Testosterona (TRT) com gel exige acompanhamento médico regular e cuidadoso para garantir a eficácia, a segurança e a adesão ao tratamento. É necessária uma avaliação inicial (antes de iniciar a TRT).

Antes de prescrever testosterona em gel, é fundamental:

  • Confirmar o diagnóstico: estabelecer o diagnóstico de hipogonadismo masculino com base em sintomas clínicos consistentes e confirmação laboratorial (pelo menos dois níveis de testosterona total matinal abaixo do limite inferior da normalidade).
  • Avaliar contraindicações: verificar se o paciente possui alguma contraindicação absoluta ou relativa para a TRT.
  • Realizar exames basais, obter valores de referência para:
    • Antígeno prostático específico (PSA);
    • Hematócrito (Hct) e hemoglobina (Hb);
    • Perfil lipídico;
    • Testes de função hepática (LFTs);
    • Realizar exame retal digital (DRE);
    • Considerar outros exames conforme a clínica (ex: LH, FSH, prolactina, densitometria óssea).

Monitoramento durante a TRT

Após o início da terapia, o monitoramento contínuo é necessário:

  • Níveis de testosterona: avaliar os níveis séricos de testosterona periodicamente para verificar se a dose está adequada. A primeira verificação geralmente ocorre após algumas semanas ou meses do início ou ajuste da dose. O objetivo é manter os níveis de testosterona total dentro da faixa fisiológica média-normal. O momento ideal da coleta de sangue em relação à aplicação do gel pode variar dependendo da formulação e da preferência do médico (ex: coleta antes da aplicação matinal para verificar o nível mínimo, ou algumas horas após a aplicação para verificar o pico para certas formulações). A dose do gel deve ser ajustada pelo médico com base nesses níveis e na resposta clínica.
  • Hematócrito/hemoglobina: monitorar regularmente (ex: a cada 3-6 meses no primeiro ano, depois anualmente) para detectar o desenvolvimento de policitemia/eritrocitose. Se o Hct exceder um limite seguro (geralmente 54%), a dose de testosterona pode precisar ser reduzida, a terapia interrompida temporariamente, ou pode ser indicada flebotomia terapêutica.
  • PSA e DRE: monitorar o PSA e realizar o DRE conforme as diretrizes de rastreamento de câncer de próstata aplicáveis à idade e ao risco do paciente (ex: a cada 6-12 meses). Aumentos significativos no PSA requerem investigação adicional.
  • Reações cutâneas: avaliar a tolerabilidade da pele nos locais de aplicação em cada consulta. Orientar sobre rodízio de locais e manejo de irritações leves.
  • Adesão e precauções de transferência: verificar se o paciente está aplicando o gel corretamente, diariamente, e se está seguindo rigorosamente todas as precauções para evitar a transferência para outras pessoas. Reforçar a importância dessas medidas.
  • Resposta clínica: avaliar a melhora dos sintomas de hipogonadismo que motivaram o início da TRT (libido, energia, humor, etc.). Se não houver melhora sintomática após 3 a 6 meses de níveis hormonais otimizados, a continuidade da TRT deve ser reavaliada.
  • Outros parâmetros: monitorar pressão arterial, perfil lipídico e, se clinicamente indicado (ex: desenvolvimento de ginecomastia), níveis de estradiol.

Interações medicamentosas

A testosterona pode interagir com outros medicamentos, potencialmente alterando sua eficácia ou aumentando o risco de efeitos colaterais. É importante informar o médico sobre todos os medicamentos (prescritos, isentos de prescrição, suplementos) em uso. As interações mais significativas incluem:

  • Anticoagulantes orais (derivados cumarínicos, ex: varfarina): a testosterona pode aumentar a sensibilidade aos anticoagulantes orais, potencializando seu efeito e aumentando o risco de sangramento. É necessário monitorar o Tempo de Protrombina (TP) e a Razão Normalizada Internacional (INR) mais frequentemente ao iniciar, ajustar ou interromper a TRT, e a dose do anticoagulante pode precisar ser ajustada.
  • Insulina e hipoglicemiantes orais: os andrógenos podem diminuir os níveis de glicose no sangue e melhorar a sensibilidade à insulina. Pacientes diabéticos em uso de testosterona podem necessitar de ajuste (redução) na dose de insulina ou de seus medicamentos hipoglicemiantes orais para evitar hipoglicemia. O monitoramento da glicemia deve ser feito cuidadosamente.
  • Corticosteroides (ex: prednisona, hidrocortisona): o uso concomitante de andrógenos com corticosteroides ou ACTH pode aumentar o risco de retenção de fluidos e desenvolvimento de edema, particularmente em pacientes com doença cardíaca, renal ou hepática preexistente. Cautela é recomendada.
  • Medicamentos que afetam a SHBG: certos medicamentos (ex: alguns anticonvulsivantes, hormônios tireoidianos) podem alterar os níveis de SHBG no plasma. Isso pode afetar a proporção de testosterona livre (ativa) em relação à testosterona total, o que pode ter implicações clínicas mesmo que o nível de testosterona total permaneça na faixa normal.
  • Propranolol: há relatos de que a testosterona pode aumentar as concentrações plasmáticas de propranolol.
  • Indutores/inibidores enzimáticos: embora a testosterona em gel evite o metabolismo de primeira passagem hepática, ela ainda é metabolizada sistemicamente. Medicamentos que induzem ou inibem as enzimas do citocromo P450 (principalmente CYP3A4) poderiam, teoricamente, afetar o metabolismo da testosterona, mas a relevância clínica dessa interação para a via transdérmica não está bem estabelecida.

Ciclos comuns

A administração correta e a dosagem adequada são fundamentais para a eficácia e segurança da TRT com testosterona em gel. O termo "ciclos", comumente associado ao uso de esteroides para performance, é inadequado para a TRT, que geralmente é uma terapia contínua e de longo prazo.

Administração

  • Via: aplicação tópica, sobre a pele.
  • Frequência: uma vez ao dia, preferencialmente no mesmo horário, geralmente pela manhã. A aplicação matinal ajuda a mimetizar o pico fisiológico de testosterona que ocorre nesse período.
  • Local de aplicação: aplicar exclusivamente sobre a pele limpa, seca e intacta das áreas recomendadas na bula do produto específico. Comumente são os ombros, a parte superior dos braços e/ou o abdômen. NÃO aplicar nos genitais (pênis, escroto), mamas, costas, axilas (exceto formulações específicas como Axiron®) ou sobre pele com qualquer tipo de lesão, irritação ou queimadura solar. É recomendado alternar os locais de aplicação para minimizar o risco de irritação cutânea.
  • Procedimento essencial (reforço):
    • Lavar e secar bem a área de aplicação.
    • Aplicar a dose prescrita de gel (conforme instrução para sachê ou pump).
    • Espalhar suavemente sobre a área recomendada.
    • Lavar as mãos imediatamente com água e sabão.
    • Deixar o gel secar completamente por alguns minutos antes de vestir a roupa.
    • Cobrir o local de aplicação com roupa.
    • Seguir rigorosamente todas as precauções para evitar a transferência para outras pessoas.
    • Evitar tomar banho, nadar ou lavar o local de aplicação pelo período recomendado na bula (geralmente de 2 a 6 horas).

Administração em homens

Para a TRT (Terapia de Reposição de Testosterona):

  • Dose inicial: a dose inicial varia conforme o produto e a concentração. Exemplos comuns incluem 50 mg de testosterona (equivalente a 5g de gel a 1% ou um sachê de 50mg) ou 40.5 mg de testosterona (equivalente a 2 acionamentos da bomba de gel a 1.62%) aplicados uma vez ao dia.
  • Ajuste de dose: a dose inicial é frequentemente ajustada pelo médico com base nos níveis séricos de testosterona medidos após algumas semanas de tratamento, bem como na resposta clínica do paciente (melhora dos sintomas) e na tolerabilidade. Os ajustes são feitos para atingir e manter os níveis de testosterona dentro da faixa fisiológica alvo. Por exemplo, a dose de AndroGel 1% pode ser aumentada para 75 mg ou 100 mg diários, se necessário, ou reduzida se os níveis estiverem excessivos ou houver efeitos colaterais.
  • Objetivo: manter a testosterona sérica em níveis fisiológicos estáveis, aliviando os sintomas de hipogonadismo de forma segura.

Uso não médico para performance (fisiculturismo/esportes)

A testosterona em gel é ineficaz e impraticável. Como já falamos, o uso de gel de testosterona para obter ganhos suprafisiológicos de massa muscular ou desempenho é limitado pela baixa absorção, custo proibitivo, inconveniência e alto risco de transferência, tornando-o uma escolha inadequada para esses fins.

Além disso, também é proibido e não recomendado, por ser um uso é vedado pela Resolução CFM nº 2.333/2023 no Brasil, viola as regras antidoping da WADA e acarreta riscos à saúde sem benefícios comprovados nesse contexto.

Administração em mulheres

As formulações de testosterona em gel disponíveis comercialmente são destinadas ao uso masculino e contêm doses que são excessivamente altas para mulheres, apresentando um risco significativo de virilização (desenvolvimento de características masculinas secundárias). Portanto, seu uso por mulheres é contraindicado.

Mulheres que são parceiras de homens que utilizam testosterona em gel estão em risco de exposição secundária se as precauções de transferência não forem rigorosamente seguidas.

Existem pesquisas e algumas práticas clínicas que utilizam doses muito baixas de testosterona (geralmente em cremes manipulados especificamente ou adesivos) para tratar condições como o transtorno do desejo sexual hipoativo (TDSH) em mulheres pós-menopausadas, mas isso é uma indicação off-label, controversa e utiliza doses e formulações completamente distintas das discutidas aqui para TRT masculina.

As doses são muito baixas e individualizadas. O objetivo é restaurar os níveis de testosterona para a faixa considerada normal em mulheres jovens (pré-menopausa), nunca atingir níveis masculinos. As doses são significativamente menores (frequentemente algo em torno de 1/10) do que as usadas em homens para TRT. Geralmente inicia-se com um período de teste (ex: 3 a 6 meses) para ver se há melhora no desejo sexual e se o tratamento é bem tolerado.

Para fins estéticos ou de performance, as mesmas observações feitas para os homens se aplicam. É ineficaz e impraticável.

AVISO: CONSULTE UM MÉDICO ANTES DE TOMAR QUALQUER MEDICAMENTO. As informações apresentadas neste site não substituem prescrição médica personalizada. O conteúdo postado é meramente informativo. Os textos publicados por Cláudio Chamini foram manipulados por IA e podem conter alucinações. Os textos do Dr. Thiago Carneiro não sofreram manipulação.

Referências

  • Anabolics (William Llewellyn);
  • Hormônios no Fisiculturismo (Dudu Haluch);
  • Esteróides Anabólico Androgênicos (Lucas Caseri);
  • Endocrinologia Feminina e Andrologia (Ruth Clapauch);
  • PubChem / NCBI Databases.

Nomes de referência: Testogel®, Testim®, Fortesta®, Axiron®, Androlone, AndroPower Gel, Testo GelFlora.

Vídeos relevantes

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Links relevantes

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