O mundo do fisiculturismo foi pego de surpresa com a trágica notícia da morte de Cedric McMillan, aos 44 anos. Isso ocorreu há aproximadamente 2 anos. Um ícone do esporte, conhecido por seu físico que mesclava a estética da era dourada com o volume moderno, Cedric era um gigante gentil, admirado por fãs, colegas e até mesmo pelo lendário Arnold Schwarzenegger.
Sua partida prematura, no entanto, vai além da perda de um grande atleta. Ela escancara os perigos muitas vezes negligenciados do fisiculturismo de alta performance e serve como um chamado urgente à conscientização sobre a saúde no esporte.
Das telas da infância ao topo do Arnold Classic: uma paixão precoce
A jornada de Cedric no fisiculturismo começou aos 5 anos de idade, quando, fascinado pelos físicos que via na TV, prometeu a si mesmo que um dia teria músculos como aqueles. A inspiração se intensificou ao assistir Arnold Schwarzenegger em "Conan, o Bárbaro". O que era admiração virou paixão, e a paixão se transformou em um sonho de vida.
Escondido da mãe, que temia que ele se machucasse, Cedric começou a se exercitar com pesos em casa. Sua mãe não permitia que ele montasse os pesos sem supervisão, então ele os pegava secretamente debaixo da cama, se exercitava e os guardava antes que ela voltasse do trabalho.
Mais tarde, após se formar na faculdade, ele se juntou ao exército americano, onde continuou a treinar. Foi lá que conheceu Mark, um fisiculturista amador que se tornou seu mentor, ensinando-o sobre alimentação e treinamento. Foi em uma loja de suplementos, onde Cedric foi comprar whey protein, que ele conheceu Mark. Seguindo os conselhos de Mark, Cedric ganhou impressionantes 13 kg em apenas duas semanas, um prenúncio do gigante que estava por vir.
Um desfile no palco e o peso da ansiedade
Cedric rapidamente ascendeu no cenário competitivo. Ele competiu na categoria peso-pesado, onde havia apenas um concorrente, bem menor que ele. Serviu no Iraque (onde construiu uma academia improvisada para manter a forma) e, em 2009, tornou-se profissional. Sua presença no palco era única.
Ele não apenas posava, mas, como bem descreveu Leandro Osti, "desfilava com muita leveza". Osti também mencionou que Cedric era um de seus atletas favoritos.
Sua vitória no Arnold Classic em 2017 foi o ápice de sua carreira, um momento em que até mesmo Arnold Schwarzenegger o elogiou por seu estômago controlado, uma característica rara no fisiculturismo moderno. No entanto, por trás do sorriso vitorioso e do físico impressionante, Cedric lutava contra um inimigo invisível: a ansiedade.
Ele revelou mais tarde que a ansiedade antes das competições o fazia reter líquidos, prejudicando seu condicionamento e, consequentemente, suas colocações.
O apelido "terror das lasanhas", dado carinhosamente pelos fãs devido à sua retenção, escondia uma batalha interna que poucos conheciam. Cedric revelou em seu próprio Instagram que sofria de ansiedade e que, um ou dois dias antes da competição, ele estava "muito na pele", mas a ansiedade o fazia reter líquidos momentos antes de subir no palco.
Os sinais de alerta: uma saúde em declínio
A partir de 2020, a saúde de Cedric começou a se deteriorar. Ele quebrou a mão, contraiu COVID-19 e, em 2021, começou a sofrer de sérios problemas cardíacos, um ano após a infecção pelo vírus.
Cedric teve uma experiência de quase morte em julho de 2021. Ele chegou a notificar seus parentes mais próximos, temendo pelo pior. Essa informação é crucial, pois mostra que os problemas cardíacos se manifestaram de forma aguda.
Após a experiência de quase morte, Cedric passou três semanas no hospital e perdeu 13 kg. No mês seguinte, ele ignorou o conselho médico e tentou recuperar o peso perdido.
Em um vídeo emocionante analisado por Babalanda James, Cedric compartilhou suas últimas palavras, revelando a luta que estava travando.
Ele descreveu sintomas alarmantes: incapacidade de manter alimentos no estômago, soluços constantes e refluxo. Ele tentou fazer esse vídeo 4 vezes, mas sempre o apagava por ser uma pessoa reservada. Ele estava recebendo mensagens de amigos que viram na internet rumores sobre seus problemas de saúde.
Mesmo assim, contra as recomendações médicas, ele tentou se preparar para uma competição, da qual só desistiu 2 semanas antes. A pressão do esporte, o medo de ser "descartado" por seu patrocinador (Black Skull) e a incerteza sobre o futuro o consumiam.
Ele estava preocupado com o que as pessoas na internet diriam ("Cedric não é mais um fisiculturista") e como sua família e amigos se sentiriam. Ele sentia que ainda tinha algo a provar e queria continuar fazendo o que amava.
Ele estava tomando um medicamento para úlceras estomacais que parecia estar ajudando. A Black Skull se ofereceu para levá-lo ao Brasil para ser examinado por seus médicos. Ele conseguia comer cerca de uma refeição sólida por dia e sentia que as coisas estavam começando a melhorar.
As análises contundentes: esteroides anabolizantes, dismorfia e a busca implacável
Greg Doucette, em sua análise, foi direto ao ponto: a pressão do fisiculturismo e o uso de esteroides anabolizantes provavelmente contribuíram significativamente para os problemas de saúde de Cedric.
Ele apontou para a dismorfia corporal, um transtorno que distorce a percepção da própria imagem, como um fator que pode levar à busca incessante por mais tamanho, muitas vezes através do abuso de substâncias perigosas.
Doucette opinou que McMillan deveria ter se aposentado após a experiência de quase morte em julho. Ele também mencionou que Cedric tinha um contrato que o obrigava a manter uma certa imagem para vender produtos. Doucette usou seu próprio exemplo, revelando que agora está em terapia de reposição hormonal (TRH) prescrita por um médico, pratica cardio e faz exames de sangue regularmente. Ele enfatizou a importância de fazer exames regulares e não se enganar pensando que problemas de saúde não podem acontecer com você.
Greg Doucette, em sua análise, foi enfático ao apontar a pressão do fisiculturismo como um fator crucial para a fatalidade. A necessidade de manter uma certa imagem, a pressão por resultados e até mesmo as cláusulas contratuais podem levar os atletas a tomarem decisões perigosas.
Doucette acredita que, mesmo que a COVID-19 (contraída por Cedric em 2020) tenha contribuído para o morte, o uso prolongado de esteroides provavelmente teve um papel significativo nos problemas cardíacos de Cedric, incluindo o coração aumentado, uma condição comum em usuários de esteroides.
Por outro lado, Jeff Medeiros questiona se a morte de Cedric tem ligação com a doença de 2019 (COVID-19) ou com o excesso de esteroides. Segundo relatos, Cedric sofreu um ataque cardíaco enquanto treinava em uma esteira. A Black Skull, seu patrocinador, confirmou a triste notícia.
Julio Balestrin e Renato Cariani, em um podcast, também destacaram os riscos do esporte de alta performance, enfatizando que "tudo que você faz de abuso, um dia paga a conta". Eles mencionaram que a morte de Cedric ocorreu durante o horário do almoço e que ele provavelmente estava fazendo seu cardio matinal quando tudo aconteceu. A morte de Cedric, infelizmente, não era um caso isolado. Outras tragédias recentes no fisiculturismo, como a de Dallas McCarver, reforçam a urgência de uma mudança de paradigma no esporte.
Um chamado à consciência: o legado de Cedric
A morte de Cedric McMillan é uma tragédia que transcende o indivíduo. É um alerta para todos os envolvidos no fisiculturismo: atletas, treinadores, patrocinadores e fãs. É hora de repensar as práticas, os padrões e as pressões que levam os atletas a colocarem suas vidas em risco.
O legado de Cedric deve ser mais do que a lembrança de um físico impressionante e um competidor carismático. Deve ser um chamado à conscientização, um lembrete de que a saúde e a longevidade devem ser priorizadas acima de troféus e glórias efêmeras.
A última competição de Cedric foi em 2020 no Arnold Classic, onde ficou em sexto lugar.
Descanse em paz, Cedric McMillan. Sua história nos deixa uma lição valiosa e um alerta que não pode ser ignorado. Que sua jornada inspire uma transformação profunda no fisiculturismo, para que a busca pela excelência física nunca mais se sobreponha à preservação da vida.
Fontes de consulta
1. CORTES DO INTELIGÊNCIA. Os perigos de abusar do fisiculturismo - Renato Cariani e Julio Balestrin. Disponível em: <https://youtu.be/QwW6qGLbNv8>. Acesso em: 30 dez. 2024.
2. DOUCETTE, Greg. What Caused His Death? || Cedric McMillan. Disponível em: <https://youtu.be/kvELqXcail8>. Acesso em: 30 dez. 2024.
3. MEDEIROS, Jeff. O que aconteceu com Cedric McMillan?! Disponível em: <https://youtu.be/EQAB5bOQ4c4>. Acesso em: 30 dez. 2024.
4. JAMES, Babalanda. RIP, Cedric McMillan Final Moments before he died. He knew his his time had come. Disponível em: <https://youtu.be/yeb5-PAF_VE>. Acesso em: 30 dez. 2024.
5. OSTI, Leandro. Cedric McMillan morre aos 44 anos. Disponível em: <https://youtu.be/7O3nVeGhxtU>. Acesso em: 30 dez. 2024.
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