A Nandrolona, mais especificamente nas formas decanoato e fenilpropionato, é um dos mais conhecidos anabolizantes androgênicos esteróides (AAE) entre os recursos ergogênicos que figuram como métodos proibidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Poderia, talvez, nem ser assim denominado de AAE, já que possui muito mais características anabólicas que androgênicas. Na realidade, todo anabolizante reúne características predominantemente anabólicas ou predominantemente androgênicas. O percentual nestas razões é que determina o efeito principal. Questão de “semântica bioquímica”, decerto. O fato é que, dentre os substâncias desta classe, a nandrolona aparece no segundo lugar do ranking de detecção de doping, perdendo apenas para a testosterona.
O que faz deste esteróide uma opção de escolha tão popular entre os atletas? Que alterações importantes a favor do desempenho e melhora da performance esportiva estão relacionadas à esta substância? Quais riscos e efeitos adversos podem decorrer de sua utilização?
A Nandrolona é derivada, como todos os demais AAEs, da molécula de testosterona. Sua fórmula, 19-nortestosterona, resulta da modificação de um átomo de carbono da posição 19, o que faz com que sua estrutura química seja ligeiramente semelhante a da testosterona, porém com diferenças marcantes quanto à razão de percentual anabólico/androgênico. Como outros esteróides, a nandrolona contribui para a performance não somente pelo efeitos já conhecidos, mas também pelo aumento na produção de IGF-1, EPO e de aminas serotonino-sinérgicas. Outra característica marcante da nandrolona é a hidratação aumentada nas articulações e aumento da síntese de colágeno, o que representa um grande auxílio na recuperação de lesões decorrentes de treinos mais intensos.
Usuários de nandrolona usualmente reportam quedas da libido durante seu uso. Certamente, esta é uma das peculiaridades mais conhecidas deste fármaco. Isso se deve ao fato desta substância se comportar como uma progestina, apresentando uma afinidade relativamente grande com os receptores de progesterona (PGRs). Quando é feita esta ligação com o PGR, ocorrem alterações relativas à diminuição da libido, em parte pelo aumento da produção de prolactina. A explicação para isso é que, embora a progesterona tenha um caráter “feminino” por estar relacionada com o período de gestação na mulher, ela também ocorre no homem, porém em quantidades ínfimas.
Quando há atividade progestênica aumentada no organismo masculino, há uma diminuição da libido. Curiosamente, o mesmo não ocorre com a ação de progesterona bio-idêntica – que inclusive tem sido recentemente utilizada para inibir a ação da enzima 5α-redutase melhor até mesmo que a própria finasterida (você sabia?).
Também os pró-hormonais à base de nortestosterona convergem para as mesmas vias metabólicas. Normalmente nesses PHs a fórmula é norandrostenediona ou norandrostenediol. Ambas convertem para nandrolona, que por sua vez, levará a significativas quedas na libido, da mesma forma que ocorre com o esteróide na versão farmacológica (Deca). Muitos usuários de um determinado PH (bastante popular) contendo a fórmula 19-Norandrosta-4,9 diene-3,17 dione, se surpreendem com a enorme queda de libido decorrente de seu uso, sem sequer saber que esta substância nada mais é que um precursor de 19-nandrolona.
Uma das possíveis formas de se evitar ou tentar reverter este fenômeno seria a utilização conjugada de androgênicos como a testosterona (é justamente isso que muitos usuários fazem). Porém, isso acabaria se tornando um faca de dois gumes, uma vez que a androgenicidade da testosterona é alta – e em conjunto com a nandrolona, produziria efeitos desagradáveis advindos da conversão em estrógenos – justamente os efeitos que se pretenderia evitar!
Neste caso específico, a utilização da Nandrolona acabaria sendo contraditória, especialmente se a escolha for baseada no seu perfil altamente anabólico e moderadamente androgênico. Que sentido faria escolher uma droga com baixas propriedades androgênicas para depois ter que fazer uma combinação com outra substância altamente androgênica a fim de simplesmente evitar a supressão de libido?
Pensando por esta perspectiva, parece ser muito mais conveniente lançar mão de substâncias bloqueadoras de estrógenos como o levotrozol, a fim de diminuir a receptividade de REs e PGRs. A ação desta droga influencia principalmente a expressão dos receptores de estrógeno, mas estudos comprovaram que também age nos receptores de progéstenos. Esta atividade progestênica aumentada também pode influenciar de maneira acentuada o HPTA (eixo hipotalâmico-pituitário-testicular) e afetar negativamente a produção endógena de testosterona. Neste caso, o uso de HCG (gonadotripina coriônica humana) deveria ser considerado. Sem comentar que o uso do HCG também resulta em aumento de estrógenos... Complicado, não?
Um endocrinologista que ficou famoso por suas idéias contraditórias em relação ao papel dos hormônios tidos como “femininos”, Karlis Ullis, sugere que a nandrolona deva ser utilizada como recurso ergogênico apenas por indivíduos mais jovens, a despeito de suas características progestênicas. Já para as pessoas adultas ou de idade mais avançada, Ullis advoga que a Nandrolona não perfaz o perfil ideal, uma vez que quanto maior a idade, maior a conversão em estrógenos. Ironicamente, como foi citado anteriormente, a progesterona bio-idêntica tem, por sua vez, seu uso prescrito como agente anti-estradiol especialmente em homens de idade avançada (discutiremos sobre esse estudo em outro artigo).
Apesar do uso destes fármacos ser destinado apenas à utilização terapêutica e com prescrição exclusivamente restrita ao profissional da área da medicina, infelizmente não é que ocorre em termos práticos. Parece ser oportuno então, que se promova uma discussão acerca de sua utilização voltada a outros fins, não com o intuito de incentivar tal prática, mas sim de procurar, à luz da bioquímica, estudá-la a fim de compreendê-la mais completamente.
BONS TREINOS E ATÉ A PRÓXIMA!
Nandrolona (Deca) e Supressão da Libido
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