Foi apenas uma batalha vencida, a guerra continua...
Ainda é muito cedo para cantarmos vitória na luta contra o preconceito, discriminação e falta de informação que somos obrigados a aturar quando a imprensa aborda o assunto dos anabolizantes esteróides. Não bastasse a forma distorcida como é tratada a questão, ainda são feitas associações bizarras – para não dizer equivocadas. E essa afirmação, diga-se de passagem, ainda assim encontra-se carregada de eufemismo, tamanha é a salada de bobagens que tem sido reportada acerca do tema.
No mês passado – e isso foi comentado aqui no site – foi apresentada uma matéria em um programa exibido aos domingos sobre AAEs, com o seguinte título: “anabolizantes esteróides, o risco em busca da vaidade”. Mais dramático, impossível... O mais curioso é que, sem falar na tragédia da matéria, quase nada foi mencionado sobre uso de esteróides anabolizantes, mas sim de aplicações localizadas de óleo. Por sinal, o convidado menos eloquente – um cidadão com músculos prestes a explodirem de tanto óleo – foi o que mais se destacou, embora sua visível falta de esclarecimento fosse flagrante. Ironicamente, havia um médico presente (que era a pessoa mais indicada para falar sobre o assunto) que, infelizmente, não teve espaço suficiente para se manifestar plenamente. Pudera, o oleoso acabou roubando a cena, já que o interesse claramente era vender bizarrices e não informar. O doutor até se esforçou para explicar apropriadamente, mas não teve muita oportunidade.
O tal “anabolizado” ficou tão famoso que, uma semana depois, foi feita uma nova matéria, no mesmo programa. Desta vez, a abordagem não poderia ser pior. Foi mostrado como era o dia-a-dia do – segundo a chamada – “homem mais bombado do Brasil”. Essa, sem dúvida, foi muito mais grotesca que a primeira. Com ares de celebridade, o pobre coitado posou para as câmeras, arriscou comentários desconexos a respeito de sua alimentação e suplementação (???) e ainda exibiu sua força descomunal executando uma repetição – auxiliado por seu “trainer” – no banco supino, com uma barra pesando inimagináveis cento e cinqüenta quilos! Impressionante, não?
Este episódio provocou uma extrema animosidade na comunidade dos praticantes e entusiastas (sérios) de musculação. Um colega, na academia, comentou comigo que, no dia da matéria, seu pai ligara preocupado: “meu filho, você não está usando aquelas coisas da reportagem também, não é?” Com toda certeza, esse não foi um caso isolado. Qualquer visão deturpada que eventualmente existisse sobre praticantes de musculação, ganhou muito mais veemência graças a estas matérias infelizes.
Ironicamente, sobre quem mais luta contra este tipo de prática (falsa hipertrofia à base de aplicações de óleo), é justamente em quem mais recai a famigerada imagem. Há alguns anos, uma comunidade da rede de relacionamentos Orkut, composta por pessoas contrárias a esta loucura, vem lutando contra sua difusão. Vale a pena ressaltar que o grupo não possui caráter discriminatório, pois condena apenas a prática e não os usuários, carinhosamente denominados de “idiotas”. Fui o criador do grupo, que hoje se encontra gerenciado por uma pessoa extremamente engajada na luta contra a disseminação desse absurdo – Abraço para você, Milone! Por intermédio desta pessoa, juntamente com outros integrantes do grupo, foram feitas várias sugestões de pauta para televisão a fim de se abordar o assunto de uma forma mais comprometida com a verdade.
Graças a esta iniciativa, outra rede de televisão explorou o tema em um de seus programas exibidos aos domingos. Desta vez, contudo, a reportagem foi mais condizente com a realidade, abordando de forma clara e acessível o grave problema das tais injeções localizadas. Aparentemente, poder-se-ia imaginar que toda esta comoção não passasse de um discurso cuja finalidade seria legitimar a utilização ilícita dos anabolizantes esteróides. A intenção, definitivamente, não é essa. A população, de alguma forma, já tem conhecimento quanto aos riscos de seu uso. Por outro lado, o conhecimento acerca do uso de “Synthol”, ADE e até óleos minerais e de cozinha(!!!), ainda é superficial. Além do mais, existe muita desinformação e muitos não conhecem os riscos desta prática absurda.
Contemplando a situação de um ponto de vista mais abrangente, pode-se perceber que, de uma forma ou de outra – seja informando através dos meios oficiais de comunicação, através da conversa informal no dia-a-dia ou até mesmo através da simples manifestação de repúdio em redes de relacionamento sociais – acaba-se constituindo um verdadeiro serviço de defesa à saúde pública, orientando e alertando a população, o que por si só faria jus ao seu propósito.
Como foi mencionado no inicio do texto, ainda é cedo para que nós, amantes da arte de “puxar ferro”, cantemos vitória. Embora a reportagem tenha sido muito bem produzida e bastante esclarecedora, na versão apresentada no portal da referida rede de televisão pode-se perceber no título da matéria mais uma vez – acreditem – a distorção de costume: “jovens no interior do Nordeste usam vitaminas de animais como anabolizante”. Haja tolerância!
BONS TREINOS E ATÉ A PRÓXIMA!
Veja a distorção no título da matéria: "Jovens no interior do Nordeste usam vitaminas de animais como anabolizantes".
Veja a matéria do “mais bombado do Brasil”:
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