Dados atuais sobre o sedentarismo
Diga-se que o Brasil passa por uma fase indubitavelmente complicada, quando se fala em números de pessoas inativas, encontra-se numa estatística de 14 % dos brasileiros adultos, ou seja, quase 18 milhões de pessoas adultas são totalmente sedentárias no país, segundo resultados da pesquisa de “Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas”, feito pelo Ministério da Saúde, divulgado em Abril/2012, tendo entre essa fatia da população, pessoas que não fazem nenhum tipo de exercício físico, quer seja no trabalho, no deslocamento, em trabalho doméstico ou em tempo livre (CONFEF, 2012, p.04).
Indo um pouco mais além, a mesma fonte ainda apresentou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2008), que rotulam não como sedentários, mas como “pessoas insuficientemente ativas”, os dados também são alarmantes, mostrando que 31% dos adultos acima de 15 anos, não são suficientemente ativos, não obstante, transparece que 3,2 milhões de mortes anualmente são atribuídas a falta de atividade física suficiente, tendo o sedentarismo como o quarto maior fator de risco de mortalidade global, incriminada de pelo menos 21% dos casos de tumores malignos na mama e no cólon, 27% dos registros de diabetes e 30% das queixas de doenças cardíacas.
Em virtude destes dados catastróficos, observa-se que algumas mudanças globais, tendem a colaborar com uma vida inativa e danosa para saúde, tendo como os fatores ambientais, como os que influenciam diretamente no “andar da carruagem”, vejam-se: violência, tráfego de automóveis intensos, baixa qualidade do ar e poluição, falta de parques, calçadas e aparelhos esportivos ou de recreação, e o aumento de jornada de trabalho diária (OMS, 2008). Fica evidente, que a população mundial caminha cada vez mais para uma vida pouco saudável, tendo como fator principal, o sedentarismo desenfreado.
E, é nesta fase, já que detectados índices alarmantes de atitudes e comportamentos atuais que levam a doenças sistêmicas, que os Órgãos Competentes, deveriam voltar seus holofotes aos profissionais de Educação Física, e nas construções de grandes centros esportivos e/ou academias comunitárias, sempre deixando a frente à figura do profissional de Educação Física, para que de maneira planejada e direcionada, possa ajudar de forma significativa a amenizar tais problemas de saúde num âmbito geral. Tendo em vista que já é solidificado, o quão é importante e o quão previne doenças à prática de atividades físicas quando bem orientada.
Por que introduzir exercícios físicos para uma população sedentária
Segundo Santarém (2012, p. 11), a atividade física habitual, pode colaborar de forma ímpar nas ocorrências de situações patológicas graves, evitando e também controlando doenças crônicas que evoluem outros casos clínicos tais como Aterosclerose (doença inflamatória crônica na qual ocorre a formação de ateromas dentro dos vasos sanguíneos), tendo entre estas doenças a Hipertensão arterial, o diabetes do tipo 2, e obesidade etc. O mesmo ainda afirma, que mesmo quando em predisposição genética, a atividade embora não possa evitá-las, esta poderá de forma significativa retardar/impedir possíveis evoluções.
Para entendermos um pouco deste mecanismo de defesa dos exercícios físicos contra doenças crônicas, podemos citar que o sedentarismo leva o organismo a produzir substâncias chamadas citocinas pró-inflamatórias, sendo a mais conhecida o Fator de Necrose Tumoral (TNF-alfa), esta que esta diretamente relacionada com a origem da aterosclerose. O TNF-alfa, também aumenta a resistência à insulina, dificultando a entrada da glicose nas células de todo organismo, acarretando outras doenças crônicas. (PETERSEN & PEDERSEN, 2006, p. 43-51).
Em contrapartida a estes malefícios do sedentarismo, a contração muscular produz substâncias denominadas MIOCINAS do grupo interleucinas, muito conhecidas por seus efeitos no sistema imunológico, as miocinas, agem ao contrário das citocinas, produzindo efeitos anti-inflamatórios, e com isso, pode-se afirmar que a contração muscular rotineira, oferece proteção contra doenças cardiovasculares, diabetes 2, obesidade, hipertensão arterial.
Tabela para redução do risco para desenvolver doença arterial coronariana.
MODALIDADE / FREQUENCIA / REDUÇÃO DO RISCO
Corrida / 1 hora por semana / 42%
Remo / 1 hora por semana / 18%
Musculação / Meia hora por semana / 23%
FONTE: (SANTARÉM, 2012, p. 12)
Pode perceber que o exercício físico quando bem orientado pode contribuir de forma significativa na saúde de indivíduos praticantes regulares, evitando e diminuindo diversos fatores de predisposição a doenças sistêmicas.
Conceito de algumas doenças crônicas degenerativas que evoluem para aterosclerose:
Hipertensão arterial
O Ministério da Saúde (2011) afirma que mais de ¼ da população brasileira com mais de 34 anos é hipertensa e que este número talvez seja ainda maior devido ao baixo número de diagnósticos. Sabe-se também, que é uma patologia multifatorial, com causas genéticas, fisiológicas e psicológicas.
Para Bittencourt (2009, p.205), conforme o Colégio Americano de Medicina do Esporte (2.000) “é a força na qual o coração bombeia o sangue através dos vasos, portanto podemos dizer que a pressão arterial e o produto de dois fatores: da resistência que o sangue encontra nas artérias versus volume de sangue que o coração bombeia a cada batida, ou seja, é determinada pelo débito cardíaco e pela resistência periférica. Para isso, entendemos que a resistência esta diretamente relacionada com a espessura e elasticidade, sendo que, quanto mais for à resistência, maior será a pressão”.
Ao sabermos o que é pressão arterial, fica mais cristalino entendermos o que realmente significa a hipertensão: é uma condição sistêmica com alterações estruturais das artérias e do miocárdio, associadas à disfunção endotelial, constrição e remodelamento da musculatura lisa vascular, que quando aferidos obtiverem valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg sustentados em mais de uma ocasião na ausência de medicamentos anti-hipertensivos (BITTENCOURT, 2009, P.205).
E como já conhecida, podemos usar as afirmativas do Ministério da Saúde (2006), para evidenciar tais problemas que esta pode proporcionar, vejamos: a) doenças cardiovasculares, b ) cerebrovasculares, c) renais, sendo responsável de pelo menos 40% das mortes por acidentes vasculares encefálicos (AVE), 25% de doença arterial coronariana, e em combinação com a diabetes, 50% de insuficiência renal terminal.
Diabetes 2
Segundo Fischer (2012) & Santarém (2012, p.17) no diabetes tipo 2 (não insulinodependente) o pâncreas produz normalmente a insulina, e em muitos casos até produz uma quantidade maior que a normal, mas a glicose não consegue entrar pois as células dos tecidos não são sensíveis ao hormônio. Para a glicose chegar até o interior da célula é necessário estar presente em quantidades suficientes, além da insulina, alguns receptores chamados de GLUT4 (glucose transporter 4). É como se a insulina fosse a “chave” para entrada da glicose na célula, e o GLUT4 fosse a “fechadura”, ou seja, podem existir várias “chaves”, mas se as “fechaduras” não funcionarem ou não estiverem em quantidades suficientes à glicose não entra. Isso é chamado de resistência à insulina. O diabetes tipo 2 é responsável por mais de 90% dos casos de diabetes, e geralmente aparece depois dos 30 anos.
O diabetes melito é a mais comum disfunção endócrina do pâncreas, atingindo mais de 150 milhões de pessoas em todo mundo, o que significa que quase 5% da população mundial tem essa doença. No Brasil 7.6% das pessoas entre 30 e 69 anos tem diabetes. O diabetes, se não bem controlado, pode trazer sérios riscos para saúde: como insuficiência renal, cegueira, amputações dos pés e pernas, lesões nervosas e doenças cardiovasculares, como hipertensão e derrame. (FISCHER, 2012).
Obesidade
A obesidade segundo Pollock & Wilmore (1993) apud Simão (2007, p. 138) pode ser definida como o aumento excessivo de gordura corporal. Os grandes estudiosos estipulam um padrão que acometem quando extrapolam os porcentuais de gordura de seu peso total. Tendo como estabelecido em 20% de gordura para os homens e 30% de gordura para as mulheres.
Embora também sejam um dos fatores predominantes, os hábitos alimentares irregulares, não carrega sozinho o fator determinante para desenvolvimento da obesidade, pois, existem outros fatores que também são de grande influência para atuação da obesidade. As pesquisas mostram que diferentes fatores podem levar um indivíduo a obesidade, vejamos:
- Padrões alimentares; - Ambiente Alimentar; - Comidas em conserva; - Imagem corporal; - Diferenças bioquímicas; - Termogênese induzida; - Nível de atividade física; - Temperatura corporal basal; - Níveis celulares de (ATP); - Hormônios sensitivo lípase (HSL); - Lipoproteína lípase (LPL), (SIMÃO, 2007, p. 138).
Não obstante, Katch & Mcardle (1996) apud Simão (2007, p. 139); Santarém (2012, p. 19) falam dos riscos que essa doença que assola uma grande parcela da população pode proporcionar. Usaremos a classificação de um relatório elaborado por 14 membros do Instituto Nacional de Saúde Americano, que concluiu que a obesidade deve ser vista como doença, porque surpreendentemente existem vários riscos biológicos mesmos quando em baixos níveis de excesso de gordura corporal, veja-se:
a) Hipertensão e enfarto do miocárdio;
b ) Doenças renais;
c) Doenças da vesícula biliar;
d) Diabetes mellitus;
e) Doenças pulmonares;
f) Osteoartrite;
g) Gota;
h) Câncer do endométrio e seios;
i) Lipoproteínas e lipídios plasmáticos anormais;
k) Funções cardíacas diminuídas;
j) Alterações menstruais;
l) Toxemia na gravidez;
m) Problemas psicológicos;
n) infecções de pele;
o) reduzida tolerância ao calor.
Considerações finais
Em virtude de tudo que foi mencionado, somos levados a crer, que a sociedade esta a cada dia desenfreadamente sendo forçada a ter uma vida cada vez mais sedentária, e com isso, colaborando de forma significativa com elevadas probabilidades de incluí-los nas estatísticas de pessoas portadores de doenças sistêmicas.
Pensando nisso, deve-se evidenciar para as políticas públicas e órgãos competentes, tentando viabilizar alguma mudança nestes quadros, almejando proporcionar a estas pessoas uma vida mais ativa e equilibrada, tendo como algumas das ferramentas, as construções de centros esportivos e/ou academias comunitárias, parques e pistas de Cooper. Tendo já cientificado que o exercício físico habitual quando bem orientado, pode reduzir de forma sistematizada o número de pessoas propensas a portarem certas doenças crônicas degenerativas.
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REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, V.F et al. Redução e manutenção da pressão arterial através de exercícios resistidos com pesos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício – Vol. 8 Núm. 4 – Out.Dez.2009: 205-211.
CHEYNE E. DONGES , ROB DUFFIELD , ERIC J. DRINKWATER. Efeitos da resistência ou aeróbio sobre Interleucina-6, C-Reactive Protein e Composição Corporal. Medicine & Science in Sports & Exercise: Jornal Oficial do Colégio Americano de Medicina Esportiva, ISSN 0195-9131, vol. 42, N º. 2, 2010, págs. 304-313.
FISCHER, Bruno. Diabetes: Introdução e a importância da atividade física na prevenção e tratamento. Disponível em: http://www.gease.pro...ar.php?id=102 Acessado em: 04.Ago.2012.
KRAEMER, W. J; FLECK, S.J. Otimizando o treinamento de força: programas de periodização não linear. Barueri-SP: Manole, 2009.
PETERSEN, A.M.W; PEDERSEN, B.K. The Role of IL-06 in mediating the anti-inflammatory effects of exercise. J Physiol Pharmacol. 2006; 57(10): 43-51.
SANTARÉM, J.M. Musculação em todas as idades: Comece a praticar antes o seu médico recomende. Barueri-SP, Manole – 2012.
SIMÃO, R. Treinamento de força na Saúde e Qualidade de Vida. São Paulo: Phorte, 2004.
________. Fisiologia e Prescrição de Exercícios para Grupos Especiais. 3.ed. Rio de Janeiro/RJ: Phorte, 2007.
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