Cãibras são contrações súbitas e dolorosas de um músculo (observada geralmente na panturrilha) ou grupo muscular, é um conjunto de espasmos musculares involuntários que ocorrem com mais freqüência durante ou após atividades físicas intensas, e ocasionalmente em repouso, podendo ser causadas por diversos fatores e tendo vários níveis de intensidade; quanto à duração, pode ser breve – alguns segundos – como vários minutos.
O mecanismo fisiológico causador das câimbras ainda não está totalmente claro, embora existam algumas teorias com diferentes explicações para a ocorrência da câimbra: a teoria metabólica, teoria da desidratação, teoria eletrolítica e teoria ambiental.
No primeiro caso, de acordo com Turíbio (1999) as cãibras ocorrem pela intoxicação dos músculos por metabólitos (como amônia e ácido láctico) provenientes da atividade contrátil, podendo ser provocada durante ou após o exercício físico intenso ou sem o devido alongamento, pois durante a atividade física o fígado - que é o responsável pela transformação de amônia em uréia e sua posterior eliminação - tem sua atividade reduzida e, conseqüentemente, a transformação de amônia em uréia é diminuída em relação às condições normais de repouso.
Com um maior acúmulo de amônia nas proximidades das fibras musculares e, devido a sua toxidade, pode estabelecer o aparecimento de cãibras musculares. Ainda há também a explicação segundo Fox (2000) do acúmulo de ácido láctico nas células através da realização de exercício de maior intensidade, que libera íons hidrogênio no meio intracelular e estes íons provocam maior acidez neste meio, podendo desta forma afetar o funcionamento adequado das fibras musculares e causar, entre outros distúrbios, as cãibras musculares. Vale destacar que dentre todas as teorias esta é considerada a mais limitada.
A teoria ambiental defende que as modificações extremas no ambiente externo ao organismo, principalmente em relação à temperatura tanto clima quente quanto frio interfere no organismo, podendo desencadear as cãibras, no primeiro, conhecido pela expressão “câimbra induzida pelo calor”, a elevação da temperatura corporal decorrente da combinação do ambiente de temperatura elevada com o exercício físico aumentaria a intensidade de reações químicas que gerariam a contrações musculares mais intensas e involuntárias; já o contrário, em baixas temperaturas, a explicação é dada pelo seguinte mecanismo: em resposta a baixas temperaturas há constrição dos vasos sangüíneos e prejuízo de fluxo sangüíneo para os músculos favorecendo a ocorrência de cãibras.
A teoria da desidratação baseia-se na afirmação de que a perda de água induzida pelo exercício através do suor gera um desequilíbrio nos fluídos corporais e assim pode interferir no mecanismo contrátil dos músculos, provocando sua contração súbita. Segundo Barbanti (1990) a deficiência extrema de água no organismo pode provocar os seguintes efeitos: sangue concentrado, volume sangüíneo reduzido e temperatura corporal aumentada em níveis bastante perigosos, além de afirmar que a água consiste no meio onde todas as reações metabólicas intracelulares acontecem e, no músculo, a falta de água pode deixar o sarcoplasma extremamente concentrado e as reações que acontecem nesta região podem ser prejudicadas, podendo desencadear às cãibras.
Esta teoria explica também a ocorrência destas em pessoas que não praticam atividade física, como as que ingerem altas doses de bebidas alcoólicas rotineiramente,visto que o álcool inibe a liberação do ADH (hormônio anti-diurético) fazendo assim com que a água não seja reabsorvida durante as etapas da função renal e com isso seja excretada do corpo em grandes quantidades, gerando a desidratação e por conseqüência todos os efeitos que a mesma pode proporcionar, já descritos anteriormente. Esta é uma teoria bem convincente e interessante, entretanto, confunde-se com as seguintes, visto que a perda de água pode resultar na deficiência de sódio e potássio.
De acordo com a teoria eletrolítica, o sódio e o potássio são os principais eletrólitos que, quando em deficiência, levam ao aparecimento das cãibras, devido à diferença de concentração destes íons entre os meios intra e extracelular que ocasiona o surgimento de potenciais elétricos que ocorrem nas fibras nervosas e musculares, responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos e pelo controle da contração muscular (Guyton, 1988). Além dos eletrólitos citados, acredita-se que a deficiência de outros eletrólitos como o magnésio e o cálcio também possa desencadear o aparecimento de cãibras musculares, embora não exista comprovação e consenso. É uma das teorias mais completas e mais “aceitáveis”.
O fato é que cada caso é um caso, assim, não podemos nos limitar a defender apenas uma teoria que explique tais causas e abolir as demais teorias, o aconselhável é fazer uma interação de todas as teorias para entender de forma mais ampla a fisiologia e dessa forma poder agir para a prevenção das cãibras:
- Beba bastante líquido, principalmente durante e após o exercício físico;
- Faça uso de bebidas eletrolíticas (ricas principalmente em íons sódio e potássio), antes, durante e após exercícios aeróbios - que promovem uma maior perda de eletrólitos pela maior quantidade de suor – a fim de evitar a desidratação. Bebidas recomendadas: água de coco, gatorade, suco de laranja, vitaminas de banana e abacate, suco de pêssego e principalmente o suco de tomate, o mais rico em mg de sódio entre os citados acima;
- Dê repouso adequado à musculatura após uma sessão de treinamento;
- Alongue antes e após as atividades físicas;
- Faça uma dieta balanceada, para garantir a reposição nutricional de eletrólitos;
- Evite a ingestão de bebida alcoólica em sua rotina diária, se o for fazer, opte por fazê-la raramente.
Caso ocorra cãibra, alongue o músculo em questão, relaxe-o, faça massagem e passe gelo, tais medidas ajudam a aliviar os sintomas.
Bibliografia recomendada:
BARBANTI, Valdir J. Aptidão física um convite à saúde. São Paulo: manole, 1990.
FOX, Merle L, KETEYIAN, Stevean J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. Traduzido por Giuseppe Taranto. 6ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2000.
GALI, Júlio C. Lesões musculares. [on line] Disponível na Internet. URL: apice.med.br/lesões.html. 02.jan.2003.
GENTIL. P. Exercício e câimbras. Disponível em:
Bergeron MF. Muscle cramps during exercise V is it fatigue or electrolyte deficit? Curr Sports Med 2008 Apr;7(4): S50:S55.
GUYTON, Arthur C. Fisiologia humana. Traduzido por Charles Alfred Esberard. 6ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 1988.
HUTTON RS, Nelson DL. Stretch sensitivity of Golgi tendon organs in fatigued gastrocnemius muscle. Med Sci Sports Exerc. 1986 Feb;18(1):69-74.
MILLER TM, Layzer RB. Muscle cramps. Muscle Nerve. 2005 Oct;32(4):431-42.
RUFF RL.Effects of length changes on Na+ current amplitude and excitability near and far from the end-plate. Muscle Nerve. 1996 Sep;19(9):1084-92.
MAUGHAN, Ron, GLEESON, Michael, GREENHAFF, Paul. Bioquímica do exercício e treinamento. Traduzido por Elisabeth de Oliveira e Marcos Ikeda. São Paulo: manole, 2000.
TURÍBIO,C. Para passar o verão sem cãibras. [on line] Disponível na Internet. URL: www.jt.estadao.com.br/noticias/99/01/10cturibio.html.02.jan.2003
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