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Cadência, força e hipertrofia: super slow ou super lento é o melhor?


Cadência, força e hipertrofia: super slow ou super lento é o melhor?

A cadência do exercício, ou seja, a velocidade do movimento realizado, é um ingrediente chave para se determinar a intensidade do treinamento. O efeito per si da sessão de treino e sua demanda neuromuscular são amplamente dependentes da velocidade com que um peso é erguido.

Até o momento, muitos profissionais e entusiastas do treinamento resistido ainda preconizam que a velocidade de execução dos exercícios deve ser conscientemente lenta para um treinamento focado tanto em força quanto em hipertrofia. Em 1982, o designer das famosas máquinas Nautilus, Ken Hutchins (não confundir com Dr. Ken Hutchings, professor pesquisador de Biologia da universidade de Cape Town, como alguns sites de maromba não muito confiáveis o fazem por aí!), criou um método de treinamento baseado neste princípio, chamado de Super Slow – ou Super Lento.

O método criou fama devido à alta percepção de esforço proporcionada e até hoje é muito, muito utilizado nas salas de musculação de todo o mundo. Porém, a verdade é que o método apenas tornou seu inventor rico, mas carece de validade científica.

Talvez Hutchins não estivesse mal-intencionado. Certamente, a percepção de esforço é um dos fatores que mede a intensidade do treino; porém, não deve ser a única variável levada em consideração, pois ela também está relacionada a alguns fatores que pouco tem a ver com o estresse metabólico do músculo alvo de um exercício, como, por exemplo, questões afetivas.

Sim, o afeto, ou seja, o quanto você gosta ou não de um treino, treinador, exercício, esporte e até mesmo do local onde você treina, influencia na sua percepção de esforço. Mas, isso é papo para outra matéria aqui no site. O que importa é que você, marombeiro, entenda que a alta percepção de esforço dos treinos com carga leve e velocidade de execução propositalmente lenta não é garantia de resultado hipertrófico.

Muito se fala também em eliminar o potencial elástico do tecido conjuntivo, que é a capacidade deste de armazenar energia e aumentar a habilidade do músculo em gerar tensão, o que, na prática, faz com que se consiga “levantar” mais peso. Porém, se o musculador em questão souber se aproveitar disso, ele irá adequar a quilagem do exercício a esta situação e aumentar seu trabalho de força.

É o que powerlifters são experts em fazer! Mas, se até mesmo por motivos de lesão, o praticante estiver incapacitado de usar altas cargas de treino, adequa-se a relação volume x intensidade. Usar velocidades lentas não parece ser a chave do sucesso, pois o trabalho de potência também é hipertrófico, tendo em vista que este é um produto da força x velocidade.

Lembrem-se que hipertrofia é um fenômeno de adaptação do tecido muscular a uma maior capacidade de fazer força. O que talvez possa ter acontecido com Ken Hutchins, como um não especialista da área de Educação Física, foi confundir os conceitos de velocidade e potência, associando deslocamentos rápidos à “falta de peso” e radicalizando uma situação oposta em sua invenção.

Se eu ainda não consegui convencer o leitor com argumentos científicos, tentem observar o fenótipo de ciclistas sprintistas contra o de ciclistas passistas, por exemplo (ou do Usain Bolt e do Wanderlei Cordeiro de Lima). Por que vocês acham que Ben Johnson usava Stanozolol ao invés de EPO? ;-)

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Portanto, com todas as informações mencionadas, podemos concluir com segurança que a cadência adequada ao trabalho que visa hipertrofia muscular é a conscientemente alta; ou seja, a maior possível para erguer a carga adequada ao nível de treinamento do sujeito. González-Badillo et al. (1991) já observavam há 25 anos atrás a importância da velocidade do movimento em identificar a intensidade e nível de esforço do treinamento. Os mesmos autores sugeriram em 2011 o seguinte:

(...) em vez de uma certa quantidade de peso a ser levantada, treinadores deveriam prescrever exercícios de resistência em termos de duas variáveis: 1) velocidade média da primeira repetição, que está intrinsecamente relacionada com a intensidade de carga; e 2) um percentual de perda de velocidade máxima a ser permitida em cada set. Quando esse limite de perda percentual for excedido, o set deve ser terminada. O limite de perda de velocidade de repetição deve ser definido de antemão, dependendo do objetivo de treinamento primário sendo prosseguido, o exercício particular a ser realizado, bem como a experiência de treinamento e o nível de desempenho do atleta.

(González-Badillo et al., 2011, p.17)

Só não vale pegar uma carga subestimada e sair acelerando o movimento com tudo! É aquilo que falei nas linhas anteriores: adequar a intensidade ótima ao volume ótimo e, logicamente, à velocidade ótima!

Por fim, achou complicado demais? Conselho de quem tem calo na mão: treine sem pensar nisso! Determine sua carga de 80% (caso você queira hipertrofia, ok?) e faça com o melhor padrão de movimento possível. Simples assim!

Acreditem: tem muita gente ligada no detalhe, na cereja do bolo, sem saber fazer o arroz com feijão. Não se preocupe em gourmetizar seu treino... O básico funciona – e muito bem! Bota mais dez!!! =D

NOTA DA AUTORA: Para saber mais sobre o tema, sugiro enormemente aos mais ligados em ciência a lerem a metanálise de Schoenfeld et al. (2015): Effect of Repetition Duration During Resistance Training on Muscle Hypertrophy: A Systematic Review and Meta-Analysis.

Referências:

González Badillo, J. Halterofilia. 1991. Madrid. Comité Olímpico Español

González‐Badillo, J; Sánchez‐Medina, L. Movement velocity as a measure of loading intensity in resistance training. Int J Sports Med, 2010; 31(5): 347‐52

González‐Badillo, J; Marques, M. C.; Sánchez‐Medina, L.- The importance of movement velocity as a measure to control resistance training intensity. Journal of Human Kinetics, Special Issue 2011, 15-20

Brad J. Schoenfeld et al. Effect of Repetition Duration During Resistance Training on Muscle Hypertrophy: A Systematic Review and Meta-Analysis. Sports Med. 20 January, 2015.

 

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Comentários Destacados

Visitante R100 - Treinamento para Hipertrofia Muscular

Postado

Em primeiro lugar vc usou o termo 'musculador'! PERFEITO! Praticante de musculação não é fisiculturista, nem culturista e sim musculador (a)! Atleta de fisiculturismo é outra coisa! Quanto ao super lento, isso é balela! A fibras de força, tipo 2, brancas, para serem estimuladas elas precisam de VELOCIDADE! A literatura está aí para comprovar e isso não é nenhuma novidade!  Velocidades lentas estimulam as fibras vermelhas, fibras lentas de tipo 1. Velocidades lentas fadigam as fibras brancas pois elas fadigam mais rapidamente que as fibras vermelhas! 'Ah... fiz o movimento bem devagar e doeu, queimou, senti! FADIGA caro musculador! PERFEITA  a tua explanação nesse artigo! Venho batendo nessa tecla há muito tempo! Quer hipertrofia? Velocidade moderada para o movimento, nem muito lento, nem muito rápido!

Parabéns pelo artigo!

Daniela R Del Giorno

Postado (editado)

Em 15/11/2016 at 18:47, Diego Rafael Furian disse:

Em primeiro lugar vc usou o termo 'musculador'! PERFEITO! Praticante de musculação não é fisiculturista, nem culturista e sim musculador (a)! Atleta de fisiculturismo é outra coisa! Quanto ao super lento, isso é balela! A fibras de força, tipo 2, brancas, para serem estimuladas elas precisam de VELOCIDADE! A literatura está aí para comprovar e isso não é nenhuma novidade!  Velocidades lentas estimulam as fibras vermelhas, fibras lentas de tipo 1. Velocidades lentas fadigam as fibras brancas pois elas fadigam mais rapidamente que as fibras vermelhas! 'Ah... fiz o movimento bem devagar e doeu, queimou, senti! FADIGA caro musculador! PERFEITA  a tua explanação nesse artigo! Venho batendo nessa tecla há muito tempo! Quer hipertrofia? Velocidade moderada para o movimento, nem muito lento, nem muito rápido!

Parabéns pelo artigo!

  Obrigada pelo reconhecimento, Diego! Juntos somos mais fortes, levando conhecimento real ao público, derrubando mitos e trazendo resultados REAIS aos nossos alunos! Grande abraço e... bota mais dez!!! :-D

 

 

 

Editado por Daniela R Del Giorno


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