O universo do fisiculturismo feminino com Alê Grimaldi: dieta, hormônios e experiência de vida
Alê Grimaldi, fisiculturista e referência no mundo fitness, compartilhou sua trajetória pessoal e profissional em uma entrevista repleta de insights sobre os desafios, as escolhas e os aprendizados no fisiculturismo feminino. De uma rotina rigorosa de treinos e dieta desde a infância até os impactos do uso de hormônios no corpo feminino, Alê abordou questões que vão desde saúde e disciplina até os perigos de práticas inadequadas no esporte.
A base do estilo de vida esportivo
Desde jovem, Alê teve uma vida dedicada ao esporte. Criada por uma mãe que incentivava hábitos saudáveis para os filhos, ela cresceu em um ambiente sem refrigerantes, açúcar ou alimentos processados. Segundo Alê, nunca provou hambúrguer ou batata frita, o que moldou uma rotina disciplinada que favoreceu sua vida como atleta.
Com quatro filhos em sua família, três deles atletas, Alê destacou como essa base foi essencial para sua trajetória no esporte.
A transição para o fisiculturismo
Em 2012, aos 42 anos, Alê estreou na categoria Woman Physique, uma modalidade que considerou mais adequada ao seu estilo e objetivos. Embora já tivesse uma rotina intensa de treinos e dieta, ela destacou a diferença entre treinar para a vida e treinar para competir. Segundo ela, o palco a “chamou”, e não o contrário.
Nesse início, Alê optou por não usar hormônios devido a preconceitos e receios pessoais, o que a levou a enfrentar desafios extremos. Para alcançar o nível de definição necessário, sua dieta era extremamente restritiva, resultando em perda de glicogênio, água e densidade muscular. Esse processo revelou as dificuldades de competir sem suporte hormonal, o que a levou a reconsiderar sua abordagem.
O uso de hormônios e seus impactos
Após muita pesquisa e estudo sobre hormônios, Alê decidiu incorporar o propionato de drostanolona (Masteron®) em doses consideradas baixas (200 mg por semana) nas 12 semanas finais antes das competições. Esse hormônio, derivado de DHT, é conhecido por seus efeitos menos severos em mulheres, mas mesmo assim trouxe efeitos colaterais.
Entre os principais impactos, Alê mencionou:
- Virilização: crescimento de pelos faciais e corporais, alteração no tom de voz (ficando mais rouca) e mudanças permanentes causadas pelo uso de hormônios.
- Pelos corporais: necessidade constante de depilação com cera e uso de lâminas no rosto, já que tratamentos como laser têm pouca eficácia.
- Efeitos positivos: aumento da densidade muscular e melhora na retenção de massa magra durante a dieta restritiva, mas ao custo de mudanças hormonais significativas.
Ela enfatizou que esses efeitos podem variar de pessoa para pessoa e alertou sobre o uso indiscriminado de hormônios por mulheres não atletas, destacando os altos riscos e as consequências irreversíveis.
Entendendo os hormônios e o ciclo do corpo
Alê explicou com detalhes o impacto dos hormônios anabólicos no corpo humano, tanto em homens quanto em mulheres:
- Supressão do eixo hormonal: o uso de hormônios sintéticos como testosterona ou seus derivados causa supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário, inibindo a produção natural de testosterona nos homens e de estradiol nas mulheres.
- Feedback negativo: O corpo entende que já há hormônio suficiente e reduz a produção natural, o que pode levar a problemas como hipogonadismo.
- Impactos cardiovasculares: o uso prolongado de hormônios pode causar aterosclerose, hipertrofia do ventrículo esquerdo e outras complicações cardíacas.
- Perigos do uso indevido: Alê alertou sobre jovens que usam hormônios sem necessidade médica, causando danos irreversíveis à saúde, como infertilidade e problemas cardíacos.
O papel da dieta e do treino
Além do uso de hormônios, Alê destacou a importância de uma base sólida de dieta e treino. Para ela, o hormônio é apenas a “cereja do bolo”, e o verdadeiro trabalho está na construção de uma rotina consistente:
- Dieta rigorosa: desde a infância, Alê manteve uma alimentação limpa, o que facilitou sua adaptação às exigências do fisiculturismo.
- Treino intenso: em vez de fazer múltiplas sessões de cardio, ela preferiu ajustar sua alimentação, mostrando que disciplina e equilíbrio são mais importantes do que extremos.
- Descanso e paciência: Alê criticou a cultura do “atalho”, enfatizando que um físico de qualidade é construído ao longo de anos de dedicação.
O alerta contra o uso desinformado de hormônios
Alê compartilhou histórias de jovens e atletas que buscaram resultados rápidos por meio do uso inadequado de hormônios. Ela descreveu casos de pessoas que enfrentaram complicações sérias, como infartos precoces, e enfatizou que muitos não entendem os riscos envolvidos.
Segundo ela, a desinformação na internet e a má interpretação de informações técnicas contribuem para práticas perigosas. Alê reforçou que, antes de qualquer decisão, é essencial buscar orientação de profissionais capacitados.
Lições de vida e consciência no fisiculturismo
Alê encerrou sua entrevista com reflexões sobre o equilíbrio entre saúde e performance. Apesar dos desafios enfrentados, ela destacou os benefícios de uma vida saudável na menopausa, atribuindo sua qualidade de vida ao treino e à dieta consistente ao longo dos anos.
"Se você quer resultados, precisa estar disposto a abrir mão de algumas coisas", disse Alê, enfatizando que não há atalhos no esporte ou na saúde.
Conclusão
A experiência de Alê Grimaldi é um testemunho dos altos e baixos do fisiculturismo. Com uma visão honesta e realista, ela trouxe luz à importância da disciplina, dos cuidados com a saúde e dos limites que precisam ser respeitados no uso de hormônios. Sua mensagem final é clara: resultados consistentes e sustentáveis vêm do trabalho duro e da paciência, não de atalhos perigosos.
Siga @alegrimaldi_pro no Instagram.
Fontes de consulta
1. A VIDA É UM CAOS - CORTES. Alê Grimaldi dá uma aula sobre hormônios anabolizantes. Disponível em: <https://youtu.be/BkddWV86quA>. Acesso em 22 dez. 2024.
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