Dentre os efeitos dos hormônios anabólico-androgênicos está o de elevar a produção de hemácias (os glóbulos vermelhos) na medula óssea e promover dilatação dos vasos sanguíneos.
Pra entender como isso é bom pro seu desempeno (ou mal pra sua saúde) posso comparar o seu músculo com um motor. Motores utilizam oxigênio e combustível pra produzir energia, o músculo também. Aumentando a entrada de oxigênio ou de combustível podemos permitir que mais energia seja produzida, logo, mais potência!
Quando um esteroide chega à medula ele é convertido num composto chamado de 17-keto esteroide. O que ele faz é basicamente deixar as células da medula de prontidão, aguardando um sinal pra começar a produzir eritrócitos. Essa molécula é a chamada eritropoietina, produzida no rim, sua produção também é elevada pelos esteroides (fig. 2 JELKMANN, 2000).
Os motores possuem entradas de ar, obviamente, pra que o ar entre e ocorra a queima de combustível. Existe um caminho que o oxigênio precisa percorrer desde sua entrada até que chegue ao motor. Semelhante processo ocorre no corpo humano, o ar entra e então percorre um caminho até chegar aos tecidos. É hemácia que leva o oxigênio dos pulmões até seu destino.
Os esteroides então aumentam a quantidade de hemácias e também a capacidade delas da incorporarem ferro. É o ferro que “segura” o oxigênio na hemácia. Não só isso, também ocorre aumento do chamado de 2,3-Difosfoglicerato que é quem faz a hemácia “soltar” o oxigênio por aí. Então, temos aumento na: quantidade de hemácias, capacidade de transportar o oxigênio e capacidade de liberar esse oxigênio.
Assim como os compressores aumentam a entrada de ar no motor, o melhoramento no funcionamento e quantidade de hemácias permitirá mais oxigênio disponível e, com mais oxigênio pode se produzir mais energia (pra contração muscular).
Os esteroides ainda reduzem a entrada de cálcio na célula epitelial (aquela do vaso sanguíneo). É através do cálcio que os vasos se contraem (fig. 3. JONES et al., 2003), sendo assim, se há menos cálcio há menor contração dos vasos sanguíneos.
Ao mesmo tempo ativam a produção de Óxido Nítrico que causa vasodilatação (fig.4. AKISHITA; YU, 2012). Isso tudo permitirá que o sangue corra mais livremente, facilitando aquelas hemácias multiplicadas e melhoradas chegarem a seus músculos. É como se houvesse um aumento na admissão do motor: chega mais oxigênio e mais combustível, o resultado é claro só pode ser melhora de rendimento.
Isso tudo é saudável quando os esteroides estão em níveis fisiológicos, isto é, que o próprio corpo produz, mas o uso exacerbado pode gerar produção excessiva de hemácias (chama-se policitemia), aumentando muito o volume de sangue. Alguns hormônios ainda se convertem em estrogênio que conhecidamente podem causar retenção de água, inclusive no sangue. Acontece que os vasos sanguíneos dilatam só até certo ponto, nem sempre sendo o suficiente pra sustentar esse volume extra de líquido. O resultado pode ser hipertensão e risco de trombose aumentado.
Importante salientar que uso de esteroides em cápsula e anticoagulantes requer cuidado, já que os hormônios orais (17-a alquilados) reduzem a coagulação sanguínea por elevar os níveis de plasminogênio, proteína C e Antitrombina 11.
Alguns usuários de esteroides ainda procuram usar AAS Infantil pra reduzir a produção de hemácias, acontece que esse medicamento só reduz os fatores de coagulação sendo útil só pra evitar trombose. Assim como o excesso é prejudicial à saúde, a deficiência de hormônios anabólico-androgênicos também causará problemas, pois com a falta deles os efeitos vasodilatadores e antitrombóticos são perdidos. Podemos observar na figura 5 (BORS et al., 2014) que existe um meio termo onde os andrógenos são saudáveis pro sistema cardiovascular, acima ou abaixo disso pode ocorrer problemas.
Referências
doi.org/10.1016/S0149-2918(01)80114-4
doi.org/10.3275/6149
doi.org/10.2174/1389201003379068
doi.org/10.1038/sj.bjp.0705141
doi.org/10.1186/s12916-014-0211-5