Dieta de Gladiadores (The Game Changers) um documentário pró-vegano?
A provedora de filmes, série e documentários via streaming Netflix incorporou em seu acervo de documentários o "Dieta de Gladiadores" ou "The Game Changers" - título original em inglês. Levando ao pé da letra, o título original da língua inglesa quer dizer "aqueles que mudam a regra do jogo". A produção exalta uma nova vertente na nutrição: o veganismo.
No documentário “The Game Changers”, temos um apanhado de informações bastante pertinentes a respeito da dieta de nossos antepassados. Não se espante com a palavra dieta. Naquela época, não existia nutricionista, mas as pessoas já faziam dieta. Difundida de maneira errada, a palavra “dieta” é originária do latim e significa “estilo de vida”.
O avanço da tecnologia e o crescente estudo na área da alimentação permitiram que pesquisadores fossem capazes de investigar, por meio de ossada humana, a forma com que os homens de civilizações antigas se alimentavam. E é aí que começa o documentário (e isso justifica o título em português: dieta de gladiadores).
Os argumentos pró-veganos apresentados no documentário
Resumidamente, o documentário apresenta, dentre outros, os seguintes argumentos a favor de uma dieta vegana (sem proteína de origem animal):
- os gladiadores eram veganos;
- a dieta vegana reduz o colesterol;
- eliminar a carne da dieta faz emagrecer;
- muitos atletas de elite são veganos;
- o corpo humano não está adaptado para uma dieta com proteína animal;
- dieta vegana aumenta o número de ereções masculinas.
Ao longo do documentário, não foi entrevistado nenhum pesquisador da saúde com pensamento favorável a uma dieta com fontes de proteína animal para lançar os argumentos favoráveis a uma dieta diferente da vegana. Isso motivou a elaboração desta matéria, como uma fonte de crítica construtiva, por meio da apresentação de contrapontos à suposta perfeição da dieta vegana.
Conhecendo os argumentos em sentido contrário
Ao longo deste texto serão apresentados os contra-argumentos baseados em estudos científicos de grande relevância no meio acadêmico a respeito de afirmações trazidas pelo documentário, o qual se limitou a exaltar o veganismo. O documentário passou a impressão de que a dieta vegana seria a única forma saudável para se alimentar, sendo omisso quanto aos contrapontos da ciência e dos defensores de outros tipos de dieta (que incluem fontes de proteína animal, tais como carnes de peixes, frangos, suínos e bovinos).
Nesta matéria, você conhecerá os motivos para ser ou não ser vegano, o porquê deve ou não deve ser vegano, a partir de um ponto de vista desinteressado quanto à sua decisão, que é pessoal, sem pender favoravelmente ao veganismo ou contra ele, apenas apresentando a verdade quanto a alguns temas tratados no documentário.
O que é o veganismo?
Ao contrário do que se pensa, o veganismo não se baseia apenas em não comer alimentos de origem animal, mas, representa um estilo de vida voltado a excluir tudo aquilo que de alguma forma tenha contato com animais.
Roupas, sapatos, produtos de beleza, fármacos e qualquer outro produto que depende de testes em animais é rejeitado pelo estilo de vida vegano. O veganismo passa a ser uma filosofia de vida.
Por qual motivo contextualizar o estilo de vida vegano? O documentário citou, diversas vezes, o termo “dieta vegana”. Como já foi colocado, para uma dieta ser verdadeiramente vegana, o contato com animais deve ser inexistente.
Com essa consideração em mente, chegou a hora de revelar o quanto o documentário que "The Game Changers" ou "Dieta de Gladiadores" é tendencioso e mal elaborado em suas fundamentações, que são facilmente rebatíveis. Em termos de imagens, elenco e produção, o documentário é impressionantemente bem feito, servindo muito bem ao papel de convencer pessoas leigas sobre a "perfeição" da dieta vegana.
Quem eram os gladiadores? Por qual motivo eram "veganos"?
Ao se recordar das aulas de história no ensino médio, você certamente terá em lembrança o período da Idade Média, época dos gladiadores, certo? Quem eram os gladiadores? Eram atletas? Deuses? Obviamente que não.
Os gladiadores eram homens privados de liberdade, ou seja, presidiários! Isso mesmo! Não eram atletas ou deuses, eram inimigos dos reis e imperadores que lutavam pela própria sobrevivência na arena, sendo objeto de entretenimento do público. Matavam seus oponentes para não serem mortos. Os oponentes poderiam ser outros presidiários (gladiadores) ou algum animal feroz. As lutas eram uma espécie de espetáculo, um divertimento para os governadores e para a população livre.
Naquela época, não existiam mercados e nem açougues. Não existiam refrigeradores e nem congeladores. Os alimentos consumidos eram produzidos pela agricultura e a proteína animal era proveniente da caça, e deveria ser consumida de pronto, pois não poderia ser armazenada por muito tempo.
Você nunca precisou caçar para se alimentar, certo? Mas você já se imaginou lutando (com faca, lança e próprio punho) com um leão, um boi ou um guepardo? Difícil e trabalhoso, não é mesmo?
Em razão dessa dificuldade toda, quem você acha que comia a carne caçada? A proteína animal ainda não era uma "commodity", mas era ainda mais valiosa naqueles tempos. Portanto, os presidiários a ela não tinham acesso. A proteína animal era um luxo para poucos.
De acordo com o documentário, os gladiadores eram fortes por não consumirem carne, apenas tubérculos e legumes. Essa correlação entre vigor físico e dieta vegana por meio de uma realidade passada ou fato histórico não faz nenhum sentido.
Os gladiadores tinham vigor físico em razão da dieta vegana?
A “força” dos gladiadores ou presidiários não era proveniente da carne ou da proteína animal pelo simples fato histórico de não haver carne disponível para a alimentação deles.
Há uma enorme forçação de barra no documentário no momento em que se diz que, por comerem legumes e tubérculos, a dentição dos gladiadores era mais forte.
Você já tentou comer uma mandioca crua? Não dá né! A dentição dos presos certamente sofreu adaptação devido à dificuldade imposta pela alimentação crua, e não por eles não consumirem proteína animal. Não existe evidência científica no sentido de que a dentição de uma pessoa seja mais forte por não consumir proteína animal. Aqueles gladiadores que não tinham a dentição "forte", sequer conseguiriam se alimentar direito e logo seriam eliminados pelos demais.
O primeiro argumento do documentário, baseado em fatos históricos relacionados aos gladiadores, foi facilmente contra-argumentado pelo restante da história que não foi contada na produção, que se revela evidentemente pró-vegana e acientífica.
Portanto, a "força" dos gladiadores "veganos" não é convincente.
O veganismo e o colesterol
Vamos analisar um segundo argumento favorável ao veganismo apresentado no documentário, que é a redução do colesterol dos indivíduos que adotam o veganismo.
Aproximadamente 70% (setenta por cento) a 80% (oitenta por cento) do colesterol detectado no exame de sangue é produzido pelo próprio corpo. Somente 20% (vinte por cento) a 30% (trinta por cento) é proveniente da alimentação.
Fontes de proteína animal (carnes, ovos, queijos e derivados) são ricas em colesterol em sua composição. Por outro lado, a fontes vegetais de proteína (castanhas, amendoim e azeitona por exemplo) possuem bem menos colesterol.
No documentário, 3 (três) jogadores de futebol são convidados a participar de uma experiência. A eles são oferecidos burritos com proteínas de origem animal e, logo em seguida, o sangue deles é coletado para análise o perfil lipídico (colesterol total e suas frações).
Não precisa ser um gênio para saber que, obviamente, o valor será alto, uma vez que a dieta do dia, como um todo, não foi controlada. Uma única refeição controle (os burritos) foi tomada como base.
No dia seguinte, os mesmos 3 (três) atletas recebem burritos, dois com proteína de fonte animal, e outro com fonte vegetal. Novamente o sangue foi coletado imediatamente após a refeição. Adivinhe o que aconteceu?
O perfil lipídico daquele indivíduo que comeu o burrito com proteína de fonte vegetal foi menor. Óbvio que seria esse o resultado, pois era a fonte de proteína que possuía menos colesterol.
Novamente se exalta a "maravilha da dieta vegana", com exames cujos resultados eram esperados, sem qualquer surpresa, baseados numa única refeição, num único dia.
No campo das pesquisas de alta evidência científica, esse estudo não tem relevância para propor mudanças na alimentação de uma população inteira. É necessário ter uma amostra (número de jogadores) maior, separar alguns deles em grupos diferentes (consumidores de proteína vegetal versus animal), controlar a dieta do dia inteiro durante o período da pesquisa, coletar mais amostras de sangue em momentos distintos, e avaliar os resultados por um período considerável (aproximadamente 2 a 3 meses, no mínimo) para se constatar se houve alteração de longo prazo no perfil lipídico.
O documentário também se desenvolve numa intervenção na alimentação de bombeiros, e os resultados apresentados foram benéficos. Os bombeiros avaliados estavam acima do peso.
Pessoas que estão acima do peso ideal certamente possuem alteração no perfil lipídico, e alterando a fonte de proteína animal para a vegetal, esses valores tendem a se normalizar ou chegar próximo ao normal.
Porém, isso não ocorre porque a proteína vegetal é mais saudável do que a proteína animal, mas porque a proteína vegetal possui menos colesterol que a animal, como já citado acima.
Não existem alimentos vegetais classificados como fontes de proteína
Entretanto, quanto à proteínas vegetais, vale frisar que não existem alimentos vegetais que sejam "fontes de proteína". É isso mesmo! Calma, explico.
Na nutrição, quando falamos que um alimento é "fonte" de determinado nutriente, isso quer dizer que aquele nutriente está presente em maior quantidade na sua composição.
Por exemplo, o frango é fonte de proteína, o que quer dizer que ele possui mais proteínas do que gorduras e carboidratos (que são zero nesse caso).
A soja, uma das substituições que vegetarianos e veganos usam no lugar da carne, é fonte prioritária de carboidratos. Ela contém proteínas e gorduras em menor porção na sua composição.
Como não existem alimentos de origem vegetal que sejam fontes de proteína, ao se retirar da alimentação a carne, deve-se tomar muito cuidado com a quantidade de alimentos que serão consumidos no seu lugar.
Essa características dos vegetais é um prato cheio para a indústria de suplementos alimentares vegana.
As proteínas vegetais e os aminoácidos essenciais
As proteínas vegetais não possuem a combinação de aminoácidos essenciais em sua composição, e, sem esses aminoácidos, não ocorre a hipertrofia muscular. Os aminoácidos essenciais não são sintetizados pelo corpo, devendo ser obtidos pela alimentação, sendo os seguintes:
- histidina;
- isoleucina;
- leucina;
- lisina;
- metionina;
- fenilalanina;
- treonina,
- triptofano;
- valina.
Como a alimentação vegana não proporciona a combinação ideal desses aminoácidos essenciais, o vegano que busca hipertrofia acaba se socorrendo de suplementação de aminoácidos.
Dieta vegana hipercalórica e excesso de fibras
Além de se atentar ao teor protéico da dieta, vegetarianos e veganos podem ter problemas ao consumir grandes volumes de comida de uma só vez, já que os alimentos que possuem proteína são ricos, também, em fibras.
Quanto maior o teor de fibras de uma refeição, maior pode ser o desconforto gástrico (gases e dores de barriga, por exemplo), e mais lentamente será o esvaziamento. Como consequência, o consumo alimentar ao longo do dia pode ser menor.
Essa é mais uma constatação que pode culminar com a necessidade de suplementação alimentar pelo indivíduo vegano, de modo que consiga ingerir mais calorias sem as respectivas fibras alimentares.
A dieta vegana emagrece?
Como visto, em razão do excesso de fibras por refeição, o vegano tende a comer menos (ingere menos calorias ao longo do dia), e um dos resultados pode ser a perda de peso. Esse fato aconteceu com os bombeiros apresentados no documentário.
Portanto, não foi a exclusão da proteína animal da dieta que repercutiu positivamente no estado geral de saúde dos bombeiros que estavam acima do peso, mas a redução de calorias ingeridas e o emagrecimento em direção ao peso corporal ideal.
Por esse motivo, é natural que uma dieta vegana possa conduzir ao emagrecimento, assim como uma dieta devidamente balanceada (menos calórica) com matéria animal.
E os diversos atletas de elite que são veganos? Como conseguem todo seu vigor físico?
Para ressaltar os benefícios do veganismo, num outro momento do documentário, atletas de elite e de esportes de alto rendimento aparecem associando seu sucesso desportivo com a ausência de proteínas animais na dieta.
A alimentação de atletas de alto desempenho é muito restrita. Atletas têm rotina extremamente regrada: hora certa para dormir, acordar, comer e treinar. Treinam várias vezes ao dia, muitas vezes, para que consigam rendimento ótimo.
Tudo o que atletas de elite consomem é estritamente controlado. Desde alimentos até suplementos alimentares. Nada é consumido porque “deu vontade” ou porque “todo mundo estava comendo e eu não consegui dizer não”.
Há uma equipe de treinadores, médicos e nutricionistas por trás do sucesso do atleta. Antes de acreditar no documentário e sair retirando da sua alimentação fontes de proteína animal porque os atletas de elite mostrados são veganos, procure orientação especializada. Caso contrário, você poderá ter uma deficiência de vitaminas (principalmente B12) que estão consideravelmente presentes nas proteínas de origem animal.
O que o documentário não mostrou, foi a necessidade de suplementação alimentar desses atletas que não consomem fontes de proteína animal. Geralmente há a necessidade de se suplementar com vitamina B12 e ferro.
Existem foi tipos de ferro: heme e não heme. O ferro heme está presente em fontes de origem animal. O ferro não heme está presente em fonte de origem vegetal. Todavia, o ferro não heme não é tão bem absorvido pelo corpo a partir da alimentação.
O corpo humano é naturalmente adaptado para a dieta vegana?
De acordo com o documentário, a genética humana é adaptada para o consumo de alimentos vegetais, o que se demonstraria pelo nosso tipo de dentição e pelo formato do nosso sistema digestivo. E o consumo de carnes causaria câncer ao ser humano.
Desde o ensino básico e médio aprendemos que o ser humano é onívoro, pode se alimentar de matéria animal e de matéria vegetal. Acerca de quantas dietas você já ouviu falar? Da dieta Atkins (fortemente baseada em gorduras e proteínas animais) até a dieta vegana (sem qualquer matéria animal), o ser humano sobrevive (mantém suas funções fisiológicas) com ambas as dietas, obtendo delas energia para as funções vitais.
A dentição humana apresenta dentes molares para mastigação (assim como os animais herbívoros) e dentes incisivos e caninos para morder e rasgar os alimentos (assim como os animais carnívoros).
Os seres humanos produzem as enzimas proteases que permitem a quebra dos aminoácidos presentes nas carnes, como os animais carnívoros. Por outro lado, não produzimos a enzima celulase, e não podemos digerir a celulose, o que nos afasta dos herbívoros. Mas nosso intestino secreta sucrase, que permite a digestão das frutas.
Precisamos de vitamina B12, que são provenientes apenas de fontes animais ou de determinadas bactérias. Também precisamos de vitamina C, presentes nas vísceras de animais (língua, bucho, fígado e rim) e em frutas cítricas.
O ser humano tem um fígado muito poderoso, e que é considerado um órgão de desintoxicação do organismo, o que nos aproxima dos carnívoros.
Nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, são animais onívoros.
Portanto, não é convincente o argumento do documentário no sentido de o ser humano ser geneticamente herbívoro. Somos onívoros. Podemos nos alimentar de fontes vegetais ou animais. Não estamos geneticamente condicionados a uma dieta vegana. Podemos ser veganos se quisermos (com os devidos cuidados quanto à análise de suplementação com vitamina B12 e eventualmente alguns aminoácidos) ou carnívoros se quisermos.
Também é possível um dieta com carnes apenas, sem vegetais. Neste caso, devem ser incluídas as vísceras animais para obtenção das vitaminas e minerais (que poderiam faltar pela ingestão de músculos e gorduras apenas). Todavia, apesar de viável fisiologicamente, recomenda-se uma dieta saudável com vegetais.
Por isso, o argumento apresentado no documentário não é convincente. Ninguém vai morrer por se alimentar apenas com fontes animais e também não vai morrer caso se alimente apenas com fontes vegetais. Um gato (animal carnívoro) não teria a mesma sorte numa dieta vegana. Morreria.
Com relação ao consumo de carne como causa de câncer, não existem estudos científicos que demonstrem essa relação de causa e efeito. Ressalvada deve ser feita quanto às carnes processadas, tais como salame, salsicha, bacon, presunto e assim por diante. Com relação aos alimentos processados, há fortes indícios no sentido de que poderiam causar câncer.
Quanto às carnes vermelhas não processadas industrialmente (como a carne bovina e a suína), não há nenhum estudo que demonstre que podem causar câncer, o que existem são estudos de correlação, não de causa e efeito. Esses estudos correlacionam o consumo de carne vermelha com a incidência de câncer.
A fim de se demonstrar uma causa e efeito, devem ser realizados ainda estudos com ensaios clínicos controlados e randomizandos de modo longitudinal, divindo-se grupos de indivíduos que não consomem carne e grupos que a consomem, por um longuíssimo período de tempo. Ao final, poder-se-ia concluir se o consumo de carne pode ou não causar câncer na forma de causa e efeito.
Atualmente, não se pode afirmar que a ingestão de carne vermelha cause câncer.
Para as carnes brancas, também existem estudos inconclusivos sobre a carne de frango como possível causadora de câncer e estudos que apontam a segurança no consumo de peixes até o momento.
Portanto, não se pode afirmar que o consumo de carnes cause câncer, mas essa probabilidade não pode ser descartada, e o consumo deve ser moderado.
Ser vegano é ser super saudável?
Ao assistir o documentário, a impressão que se tem é que a dieta vegana é a mais saudável do mundo, e que os veganos têm o shape em forma e a saúde em seu melhor estado possível.
Não é bem assim. Existem muitos alimentos processados pela indústria que não são de origem animal, são de origem vegetal (teoricamente veganos), mas que são péssimos para a saúde. Podemos mencionar alguns:
- refrigerantes;
- sucos de caixinha;
- pipoca de microondas;
- batata frita;
- biscoitos recheados;
- doces;
- margarina;
- leites de caixinha de origem não animal;
- macarrão instantâneo;
- salgadinhos.
O "mal" dos alimentos industrializados também pode atingir uma dieta vegana, sem alimentos de origem animal. O alimentos processados adicionam (geralmente em excesso) sal, açúcar, óleos ou vinagre ao insumo natural e os ultraprocessados, além dos aditivos anteriores, acrescentam gorduras, proteínas de soja e substâncias químicas criadas em laboratório (conservantes, corantes, saborizantes, realçadores de sabor e assim por diante).
E assim como a carne vermelha, esses alimentos de origem vegetal ultraprocessados também são apontados como causa provável de câncer.
Ademais, o modo de preparo dos alimentos vegetais também pode ser não saudável, tais como a fritura de legumes e a adição de molhos açucarados em saladas.
Portanto, por mais um motivo o argumento do documentário é falho ao condenar o consumo da carne e não fazer nenhuma referência aos produtos de origem vegetal, que podem ser consumidos numa dieta vegana, e que também trazem riscos para a saúde humana.
A dieta vegana e o dilema dos agrotóxicos
Ao enfrentar o tópico acima, a dieta vegana seria a salvação contra o risco de desenvolvimento de câncer, certo? Infelizmente não. A dieta vegana também não é as "mil maravilhas" quando o assunto é câncer, o qual foi abordado no documentário como um argumento para se abandonar o consumo de carnes.
Assim como existem probabilidades no sentido de que carnes vermelhas e de frango possam causar câncer, ainda que de modo inconclusivo, também existem estudos que apontam para o risco de câncer pelo consumo de frutas e vegetais produzidos com a utilização de agrotóxicos.
Nesse sentido, o mesmo argumento utilizado no documentário contra o consumo de carnes pode ser utilizado contra a dieta vegana (risco de causar câncer).
Alimentar a população mundial com frutas e vegetais orgânicos (sem o uso de defensivos agrícolas) é, atualmente, politicamente inviável. Por isso, nem mesmo os alimentos orgânicos podem ser utilizados para um movimento global pró-veganismo.
A dieta vegana proporciona mais e melhores ereções?
Para arrematar a curiosidade e interesse do público masculino, o documentário apresenta um experimento que mediu a quantidade e duração de ereções noturnas de indivíduos antes de uma alimentação livre de matéria animal e com matéria animal.
Foram identificadas mais ereções durante o sono e de maior duração após refeição isenta de matéria animal. O número de participantes foi muito reduzido, não se tratando de um estudo científico.
Não há notícia de nenhum estudo científico que aponte melhora na vida sexual masculina pela adoção de uma dieta vegana. A dieta vegana pode melhorar o fluxo sanguíneo (reduzir o colesterol e melhorar a função cardíaca), mas não necessariamente a vida sexual.
Os estudos existentes apontam que uma boa vida sexual depende de uma boa alimentação e da prática de exercícios físicos, ou seja, de um estilo de vida saudável, o que pode incluir alimentos de origem animal.
É notório também que a carne vermelha é rica em zinco (além das vitaminas B3, B12 e B6, e dos minerais ferro e selênio), que proporciona a produção natural de testosterona e o desejo sexual. A ausência da carne vermelha pode reduzir a libido.
Além disso, o colesterol presente na carne vermelha, que tem sido muito demonizado nos últimos tempos, é justamente um dos elementos essenciais para a produção natural de testosterona pelo organismo.
O documentário também trouxe nota da redução do cortisol por meio da dieta vegana, o que não é uma colocação verdadeira. O estudo que apontada para a redução do cortisol revela que é a proporção entre carboidratos e proteínas na dieta que gera esse efeito. Uma proporção maior de carboidratos e menor de proteínas (animais ou não) implicaria num menor nível de cortisol. Isso nada tem a ver com a eliminação da proteína animal da dieta.
Nesse sentido, é interessante o teste de ereção apresentado no documentário, devendo ser melhor estudado. Todavia, num contexto de vida sexual, que envolve libido e testosterona, a dieta vegana ainda não tem nenhum suporte científico para superar uma dieta saudável que inclua matéria de origem animal.
Quem patrocinou o documentário?
O documentário "Dieta de Gladiadores" ou "The Game Changers" foi produzido por Arnold Schwarzenegger, Jackie Chan, James Cameron e Lewis Hamilton, dentre outros.
Há notícia na internet que James Cameron investiu 140 (cento e quarenta) milhões de dólares para produzir proteína vegana por meio da empresa Verdient Foods, cujos sócios são Cameron e sua esposa Suzy Amis Cameron.
Os especialistas que foram entrevistados no documentário são ligados à agenda vegana e vendem livros e DVDs exaltando o estilo de vida vegano:
- Dr. Dean Ornish: autor do livro “Undo It!” (é um guia para reversão de doenças crônicas por meio da dieta vegana);
- Dr. Aaron Spitz: autor do livro “The Penis Book” (onde defende a dieta vegana para um melhor funcionamento do pênis);
- Dr. Robert Vogel: é um cardiologista autor do livro “The Pritikin Edge” (baseado na dieta vegana);
- Dr. Caldwell Esselstyn: vende livros e DVDs onde defende que a dieta vegana pode curar problemas do coração.
Além disso, Arnold Schwarzenegger (produtor executivo do documentário) é amigo de James Cameron (que foi diretor da série Exterminador do Futuro), além de estar ligado às causas ambientais (a produção de carne ocupa extensas áreas e gera muitos gases de efeito estufa).
No entanto, o mais relevante é que Arnold Schwarzenegger é o proprietário da marca Ladder de suplementos alimentares, que vende proteínas de origem vegetal (Ladder Plant Protein).
Quanto a Lewis Hamilton e Jackie Chan, são conhecidas as suas manifestações contra crueldades praticadas contra os animais, tendo adotado dietas veganas.
Conhecendo o corpo de produtores, é possível se indagar se a exaltação à dieta vegana é realmente por conta de seus benefícios para a saúde (impressão que é transmitida pelo documentário), ou se é por conta de uma bandeira de proteção aos animais, ou por conta de interesses financeiros relacionados à venda de suplementos para veganos (indivíduos que provavelmente terão que suplementar, como já visto nos tópicos acima).
Ao final do documentário é apresentada a logomarca da entidade Better Food Foundation, cujo pilar é "influenciar a sociedade a adotar políticas alimentares saudáveis, justas e sustentáveis, e que sejam gentis com os animais".
Essas informações poderiam ter sido apresentadas no documentário de modo mais claro, para se evitar qualquer suspeita de promoção ao veganismo por motivo diverso ao daquele apresentado (benefícios para a saúde). Influenciar as pessoas a adotarem uma dieta vegana por ser mais benéfica para a saúde é muito diferente de influenciá-las a serem mais amigáveis com os animais ou a gastarem mais dinheiro com suplementos veganos.
Conclusão
O documentário "Dieta de Gladiadores" ou "The Game Changers" é uma mega produção, com belas imagens, histórias interessantes e com uma apresentação tão favorável ao veganismo que pode facilmente convencer qualquer pessoa leiga nas ciências nutricionais. Com os contrapontos trazidos nesta matéria, você pode optar pela melhor dieta para a sua realidade, sabendo que nem tudo são "mil maravilhas" na dieta vegana, e sabendo que as fontes animais podem sim fazer parte de uma dieta saudável (com vegetais).
Fontes de pesquisa:
- How Humans Evolved To Be Natural Omnivores;
- Miúdos;
- Como o boi engorda comendo só grama?;
- Meat and cancer;
- Processed meats do cause cancer - WHO;
- Does everything cause cancer now?;
- Can pesticides or herbicides cause cancer?;
- In the U.S., one of every two men and one of every three women are likely to develop cancer over the course of a lifetime — and pesticides are part of the reason why.;
- Organic Farming Could Feed the World, But...;
- A vegan diet can boost erections, according to a new Netflix documentary. Here's the reality.;
- Watched The Game Changers? Now, you MUST read this. A look at the evidence: Part 1: Intro & Protein.;
- Watched The Game Changers? Now you MUST Read This. A look at the evidence. Part 2: Anecdotes, theatrics & health resort.;
- Game Changers Movie Review: Fact vs. Fiction;
- Are you a junk food vegan?;
- Alimentos processados e ultraprocessados;
- Aumento no consumo de ultraprocessados e câncer;
- Sex warning: A lack of RED MEAT in in your diet could be causing THIS bedroom issue;
- The Truth About Red Meat And Testosterone Levels;
- This New Documentary Says Meat Will Kill You. Here's Why It's Wrong.;
- James Cameron's Company Joins $140 Million Drive To Create Vegan Protein;
- Is Arnold Schwarzenegger Vegan? What You Can Learn from His Diet;
- Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth;
- Arnold Schwarzenegger Reveals the Details Behind His Supplement Company, Ladder;
- Lewis Hamilton and Jackie Chan have teamed up with James Cameron to executive produce the vegan documentary "The Game Changers.";
- Personal trainer slam Netflix's vegan 'Game Changers' documentary;
- The Game Changer - a scientific review with full citations.
Comentários Destacados
Crie uma conta ou entre para comentar
Você precisar ser um membro para fazer um comentário
Criar uma conta
Crie uma conta 100% gratuita!
Crie uma nova contaEntrar
Já tem uma conta? Faça o login.
Entrar agora